Onde está a esperança?

Queria saber o que dizer a quem chegar a ler ou a mim.
Entender o sentido das deciões e das conseqüências.
Decifrar destinos e resolver impasses.
Gostaria de ser correta mais do que errada.
Acreditar antes de desacreditar.
Ser uma pessoa cética da vida não é um bom negócio.
Não traz sentimentos nem surpresas.
Pequenas delícias da vida não existem.
O tempo é sempre pouco.
O coração é sempre pequeno.

Dívidas e dúvidas

Dívidas, dúvidas.
Criadas, somadas.
Dúvidas, dívidas.
Amargas, erradas.
Dívidas, dúvidas.
Dúvidas, dívidas.

Meios e fins

Perdi o foco, as horas e o paladar.
Os ponteiros ficaram loucos enquanto tento não respirar.
Os anos agora entram e saem com o luxo de um dia qualquer.
A vida passa lenta, quase que se recusando a seguir o curso normal.
Os sorrisos decoram a casa mas não a alma.
As entonações se confundem em ordens e felicidade.
Os dias somam-se à tristeza.
Tudo aguardando o fim, seja ele qual for.

Em poucas palavras

Com rodeios. Sim, eu sou assim. Cheia de voltas e reviravoltas, nós atados e outros frouxos. Complico o simples, mudo de direção. Confundo passos e sentimentos. Atropelo presente e desconfio do futuro. Seguro de leve mão alheia que é pra evitar prisão. Gosto do controle, estou no comando.

Eu

Não sou mais eu.
Eu não sou mais.
Sou mais não sou.
Sou.
Era.
Fui.

Plantar e colher

Saiba que tudo nessa vida a gente colhe. É feito planta que precisa de cuidado e alimento, água e um pouco de mimo. Saiba que dessa minha vida eu sei cultivar tudo o que me agrada e vou deixar morrer tudo o que não me render boa colheita.

Vem comigo

Pressa, pra que pressa? Se estou nessa caminhada longa com tudo o que preciso levar e de peito aberto pro há de vir. Vem comigo, você que nada tem a perder nem a ganhar. Vamos gastar nossos pés pelo mundo. Sentir a brisa daqui e de lá. Larga essa mania de achar, que há tempo para tudo e que ele vem depois.O tempo não espera, o tempo não tolera vida espalhada sem sentido. Vamos ver a lua que hoje ela ta grande, do tamanho dos teus olhos a me olhar. Então vem, vem viver cada segundo, vem conhecer esse meu mundo, que nele tem lugar de sobra pra botar de pé uma casinha melhor pra nós dois.

O vento de outubro

Já era tarde quando o vento começou a soprar.
Falava manso trazendo paz e frescor.
Empurrava o mundo para que ele desse mais voltas.
Encaminhava a vida para estações mais felizes.

Diálogo

Ele dizia encurralado pelo mundo: "preciso me encontrar ...ja dizia...cartola".
Eu dizia de peito e olhos abertos: "e eu te perder".

A velha canção

Aquela canção inacabada, guardada na gaveta, já amarelada pelo tempo, que sempre esperou por um fim. Aquele fechamento perfeito, com gosto de vitória e toque de amor eterno. Finalmente, aquela canção encontrou seu destino. Não serve pra ser tocada, não serve pra ser cantada e não deve jamais ser ouvida. Aquela canção é a utopia juvenil. Um sonho patetico de um peito escancarado. Agora só restam cinzas do que foi melodia, o fogo consumiu qualquer vestígio. Agora o vento espalha sentimento e infantilidade por aí.

O cais

Daquele cais eu nada quis levar. O dia era tarde e o vento como quem queria consolar, abraçava toda uma vida. Naquele mar deixei escapar não só saudade como também a vontade de amar. De tanto que você quis, de tanto fez questão, arranquei do peito novo todo aquele amor juvenil que outrora explodiu. Os anos passaram aos trancos por este corpo que agora não tem eira nem beira pra encostar. Foi no cais que eu esqueci de mim pra esquecer de você. Foi bem na hora da revoada que encontrei alivio. Paz pra essa velha vida errante que não viu na moradia a solução pra solidão. E se o amor não se perder, naquela garrafa mal tampada que deixei boiando, espero que encontre coração mais vivo e boêmio, porque este aqui, não quer mais brincar de guardar nem de sangrar.

Pássaro

Eu tinha belas asas.
Aquelas que você pegava emprestado,
pra dar vôos em outros ninhos
e trazer pra casa tristeza e novidade.
Eu costumava me empenhar
em tanto te esperar.
E foi cada dia mais demorada
essa sua volta amarga.
Cada vez mais fria
essa brisa que te trazia.
E já sem canto você me deixava em pranto.
Pedia sempre algo em troca de nada.
No surgir de qualquer pio
eu já não passava de ingrata.
Que mais querer além de sua volta?
Que mais pedir ou sentir?
Então já não sei o que esperar de mim.
Eu que já não quero voar.
Não pra ver o mesmo céu
que um dia mandei bordar de ouro pra te encantar.

Quando nasce um amor

Parece que a vida colocou seus passos em direção aos meus. O vento transpassa minha alma levando até você o melhor de mim. Ainda estamos longe, mas confiantes no bem de uma paixão. Esse caminho tem curvas, meu bem. Mas tem estrelas como nunca vistas antes, que ardem nos olhos e no peito. Não se perca nessa estrada, que ela é de mão única. Segue meu perfume, vai por esse cheiro que fica mais forte a cada manhã morna de esperança. Vem querido, nesse passo a passo podemos acabar numa dança sem fim. Só sei ouvir a canção que fala de saudade. Enquanto isso, meu bem, eu fico na janela esperando você apontar na linha do horizonte. Sorrindo e me enfeitando de luar, vou montando frases feitas e versos bobos só pra te encantar. Mas vê se não demora, meu peito já não se aguenta, de tanta vontade de te chamar de amor.

Olhos abertos pro destino

É bom sorrir sem direção, sem saber quem vai retribuir ou contribuir. No vento as folhas não têm destino e com elas deixo o meu na tempestade. Na chuva sei que liberdade se dá gelada. Na noite sei que companhia não é sinônimo de você. Já não existe dono dos meus olhos, pupilas radiantes que transbordam emoção e fazem da íris mais viva a cada verso. Meus lábios se movem a livre vontade, se contorcendo por sabe Deus quem. Algum desconhecido que ainda não tem rosto, mas um doce perfume de mistério e promessa. Sei que meu corpo não deveria balançar por qualquer um novamente, mas você me ensinou que da vida se nascem amores e que paixões não passam de convites aceitos, com ou sem expectativa. É só deixar levar, ao som do sibilar do desejo. Vai saber por onde as pernas querem caminhar, vai entender onde querem se enroscar. Nesse mundo é tudo feito pro pecado. Pobre aquele que espera do amor a santidade e a castidade das ações e das palavras.

Partes

Neste momento eu passaria pela fechadura da porta se nela coubesse. Cada buraco nessa história me mata por ser grande demais para me oferecer soluções e pequeno demais para me ajudar na fuga. Entendo de felicidade, mas é grego em se tratando da nossa. Por cada passo que abrimos lado a lado e cada conversa torta que marcaram bilhetes, paredes e sons, me diga o que fazer agora. No desembaraço dos personagens e da trama me vejo rodando pelo palco sem saber a hora da fala nem do gesto. Perdida, correndo por lugares que não conheço, esperando por abraços que não confortam e vivendo uma vida em pedaços. Pedaços dele, do outro, daquele e de mim. Me diga como juntar as partes, preciso mais do que nunca de um inteiro.

A última leitura

Percebo o abraço de despedida em carne viva. Gritando por cada poro está meu desespero para que fique, me aperte e se jogue comigo nesse chão gelado que precisa de calor. Entendo que seus anseios são maiores que o brilho dos meus olhos e que seus olhos já não enxergam os meus anseios. Mas queria que seus sapatos não soubessem mais o caminho para fora desta casa. Entre cada linha torta dessa sua vida está uma certa por onde passeio. Nesse caso, entre perfeição, ortografia e lágrimas, retiro acentos e a pontuação já não faz mais sentido, só torna mais ofegante decifrar suas várias vontades e os meus tantos desejos.

Dias intermináveis

Ainda descubro o que me arranca dos dedos as palavras que rodam desconexas pelos diálogos e pensamentos nas situações mais conturbadas. Alguém tem me tirado os pés do chão, mas tem me colado ao solo logo em seguida. Estou exausta de tantos prós e contras, tantas lembranças de sorrisos e fracassos.

Concentração

A apatia está de volta na sua melhor forma. Olhos de vidro fosco e ouvidos tampados para qualquer movimentação. Dispensando agasalhos e conversas, os cafés também serão solitários. É a preferência de quem se rende ao relógio e aos próprios passos, sem desejar qualquer faísca de destino durante o dia.

Visita

A porta se abre e aí está você, meio desarrumado com cheiro de chuva a me olhar. Um tanto calado esperando que eu leia em seus olhos as palavras que você já não sabe pronunciar. Perdemos segundos estudando um ao outro como se nos preparássemos para o ataque. Sem ação, enquadrada no corredor, sei que o tapete vermelho sob seus pés não diz que é rei. Meu rei, mas sim divindade prestes a pecar, levando consigo minha pureza e rigidez.

Sobre realidade

Sem fantasias, sem suspiros. Nesse mundo já não vingam anjos nem demônios. Feito chão de terra seca onde não nasce planta nem água. Cansei do verbo acreditar. Não há meio mais seguro e infalível de se punir que deixar de acreditar. Mas o bom é que a punição também tem efeito nos outros. Os incansáveis sedutores baratos que cantam dias melhores e declaram sentimentos abstratos. Tantas palavras desperdiçadas até hoje e sorrisos sem jeito de canto de boca, tantas noites mal dormidas e lágrimas amargas. E no fim, é cada um por si e ninguém é por nós. A decepção é única e nunca compartilhada. Alguém sempre sai com a mala cheia de ar puro e planos enquanto o outro fica em meio a memórias e lamentações. Nada deveria tirar do juízo real, principalmente sentimentos entre pessoas que por natureza se destroem. É melhor ser cético que acreditar na beleza de algo tão abstrato e auto-destrutivo como o tal amor.

A cidade e o fim de tarde

Cai uma chuva fina lá fora com mais ar de cortina que de cena. As pessoas caminham lentas e encolhidas, denscrentes de algum amor ou apenas vazias de idéias. Os carros se alternam em cores, tamanhos e formas. Os pombos continuam pelas calçadas a picotar tudo o que encontram. A tarde vai se consumindo lentamente, sem grandes surpresas nem personagens principais, esperando calmamente pela noite, que melancólica colocará tudo e todos para dormir.

Perdi para o tempo

Entre canecas, fumaça e livros encontro dias que começam e terminam sem meu rosto. Pouco me vejo, pouco converso comigo. Não me lembro de muitas coisas e percebo que a principal delas sou eu mesma. Terrível se desconhecer com o caminhar das semanas, meses e anos. Há um bom tempo eu não gasto meu tempo com sorrisos, dormir sem hora, comer chocolate na panela, sentir o vento ou qualquer coisa que pareça idiota a primaira vista, mas que hoje são lembranças boas e já insuportáveis por serem apenas lembranças.

Manhã de segunda

Estremecem as nuvens gordas no céu de hoje. Nada como uma chuva delicada e gelada pra renovar meus dias já tão parados. O vento não é mais o mesmo e eu também deixei de ser quem me deitei na cama ontem a noite. Engraçado como tudo muda num instante, incluindo roupas, formas, sonhos e sentimentos. Hoje estou cinza e radiante. Adoro opostos e sempre fui um tanto quanto contraditória. Não fosse o portunhol do onibus tentando disfarçar cantadas, eu diria que hoje tinha tudo pra ser melancólico. Mas tudo começou bem e o dia se levanta pra mais uma semana de encontros e desencontros meus comigo mesma.

Ultimato

Entenda caro rapaz, que ela não é capaz e nem pretende viver a sua vida.
A moça não tem os seus lábios secos nem os olhos opacos que você ostenta.
Saiba que ninguém é feliz negando a si mesmo um pouco de felicidade.
Escute com atenção rapaz, as flores que você nem se lembra chegam aos montes na porta dela.
Os suspiros que ela lhe reservava já não tem destino certo.
E quem perde nisso tudo não é a moça, que nada quer além de braços firmes e beijos doces.
Mas sim você, que cultiva o gosto amargo no fundo da língua e esconde lágrimas atrás de um discurso machista.
O futuro não lhe reserva uma cama vazia pela lei natural.
Você, muito conformado com o quanto é desgastante entendê-lo, se isola no tal mundo solitário que criou.
Rapaz, abra seus olhos e peito pra sorte que bate há um bom tempo em sua porta.
Ela não costuma voltar e quando parte não olha pra trás.
É apenas mais um ultimato de alguém que lhe estima.
Alguém que veste mil faces pra ser exatamente o que você precisa e que neste momento não passa de um idoso tentando lhe aconselhar sobre coisas que você ainda nem sonha passar.

Cuidado

Ando arrancando algumas estrelas deste céu. Não faz sentindo ele brilhar tanto mais. O que vivemos hoje não merece tanta emoção, principalmente da minha parte. Já não me importo com os agrados e promessas açucaradas que dominam as telas. Não faço mais o tipo boa moça e nada tenho a completar sobre você, que nunca fez o papel de príncipe. Aturo a sua postura dominadora, e penso que você deveria ter cautela com a minha misteriosa.

O que faz aqui?

A meia luz falo de um quase romance que não teve força suficiente para crescer. Uma mentira amarga que sorria ao meu lado enquanto eu fugia pra qualquer lugar dentro de mim que ainda tivesse paz. Roubou aos poucos não só minha felicidade, mas minha casa, meus pais, minha vida inteira. Eu o ouvia sibilar ao pé do ouvido, mas todos estavam surdos para notar o perigo e mudos para me confortar. Por sorte os anos encobriram o fim e também os meios. Ainda me culpam por rir um riso malicioso frente ao desfecho. Eu no entanto não espero compreensão e não acredito que alguém retire a acusação. Ficam as meias palavras jogadas na espera de um texto firme que nunca se formou. Sobram memórias com sabor agridoce que sinceramente não consigo definir se me agrada ou me enoja. Os dias passam e suas ameaças não fazem mais sentido. Não sinto o medo, nem o frio de tempos passados. Os olhos que transbordavam tristeza e pavor ao vê-lo se aproximar não existem mais. Sinto o gosto de pena brotar na boca a cada passo que dá e olhar intimidador que me lanca. Solte suas frases prontas, elas só mostram o quanto a sua cabeça é vazia. Fale também das suas conquistas sujas, mas não pense que eu as admiro. E não me convide mais para sentar em sua mesa, acabou qualquer paciência e bons modos. Não tente me punir por isso, não temos mais as forças de antes, o jogo agora é de igual pra igual.

Estranho

Já não sei descrevê-lo,
nem mesmo sei seu nome.
Não me lembro dos traços,
nem mesmo daquele cheiro.
Você não mora mais em mim.
Ou será que eu deixei de morar em você?
Pouco importa.
O vento se encarrega de espalhar ou juntar o que tem ficado pra trás.

Medidas

A ausência de palavras é prova incomoda de que falta ou sobra algo.
Sobra vida a cada passo que dou sozinha.
Falta vida a cada olhar que você me nega.

Meu jogo

Meu jogo favorito tem dados viciados e cartas na manga. Não hesito dizer que controlo tudo e que nada realmente existe nessa mesa. Saiba que você é parte apenas e não peça fundamental. Minha diversão pessoal soa como diamantes tocando o chão. É emocionante ver como se excita jurando ter a sorte a seu favor. Não no meu salão, aqui só eu ganho, aqui você é meu prêmio.

Suas cores

Estou vestindo aquele dourado por dentro.
Enquanto isso você colore com outras cores nossa vida. Não gosto desses tons, mas deixo você brincar.
Quando cansar, te mostro como realmente deve ser.

Eu e eu

Ao som de destruição pessoal alheia começo a procurar sentindo no que fazer comigo mesma. São tantas vontades e desejos. E eu simplesmente não sei o que fazer. Com um riso frouxo, meio sacana penso em lugares, bocas e sabores. Todos me confundem e me sinto diante de uma loja inteira de sonhos. Adoro tudo o que vejo toda vez que abro o olho e sinto muito não segurar tudo o que sai pela minha boca. Escapam palavras asperas e lamentações banais. Encaro qualquer realidade com a mesma vontade de transaformá-la. Nunca satisfeita, eu não amo, ou se amo não sei onde isso começa ou termina. Tudo fica no campo do desejo, se tem fundamento ou não, eu deixo a palavra pra quem acha que sabe de alguma coisa. Sou constantemente cambaleante em certas vidas, pedinte em outras, melancólica em alguns pequenos momentos e várias vezes sou tão perdida que acabo confundindo os passos alheios também. É divertido viver uma vida errante, é como andar na rodovia sem saber se falta muito ou pouco e se onde vou chegar vale a pena. No meio do caminho eu conheço pessoas e coleciono as preferidas. Descarto que não faz diferença e saboto as que considero interessantes. Gosto do calor de cada diálogo tendencioso e mais ainda de cada beijo não programado. Eu sei, todos devem imaginar que é dificil se relacionar com alguém como eu. Por isso poupo a todos, não faço amigos nem me lembro deles. Não tenho namorados passados e nem faço questão de me lembrar de quem um dia disse me amar. Também não me preocupo em definir o que sinto e nem o que pretendo sentir. Manipulo meus sentimentos por prazer e salvação própria. Não se preocupe em ir embora ou entrar na minha vida. Ninguém altera o que sou e dificilmente vai deixar saudade. Sou mútavel e satisfeita com isso. Sou minha melhor companhia e também inimiga em muitos casos. No fim não preciso de nada, tenho e crio o que ou quem preciso. É tão simples que parece até brincadeira.

Vida morna

O tempo entra pela casa levantando cortinas e arrastando sonhos. Brisa leve de pensamentos e lembranças que surgiram em momentos de descuido. A sala levita em tons pasteis irradiando uma pequena chama que aquece qualquer tristeza. As folhas do calendário escapam frouxas com o caminhar dos dias. Alguns botões desabrocham, algumas folhas murcham e tudo segue em sincronia. Certas canções embalam olhos cansados e corpo que se funde na poltrona que mais parece colo de mãe. Poucos movimentos e um ligeiro sorriso que aparece e some alternando seriedade e alma. É a vida que corre a passos pequenos dando a oportunidade de sabores mais intensos e momentos memoráveis.

O desejo sempre volta

Tenho dedos que querem escrever em seus vidros. Rascunhos de banhos e luas que ficaram esquecidos noites atrás. Faz um frio agradável toda vez que imagino sua cabeça perdida em algum lugar que dá voltas em torno de mim. Seja nessa vida ou na outra, ainda te vejo silencioso a me arrancar suspiros.

Uma questão de gosto

É certo que falar da tristeza alegra meu coração e falar da alegria o conforta. O engraçado é como as linhas nunca perdem o contorno do seu rosto. Todas tem algo seu para dizer. Sempre registrando banalidades, felicidade extrema ou tragédias em tempo real. Em mim vivem vulcões que constantemente entram em erupção e precisam de suporte jornalístico pra notíciar a quem eu não sei, o que se passa aqui dentro. Perco a forma as vezes ou a linha que gosto de seguir, mas encontro nas lágrimas habilidade suficiente pra colocar em palavras o que você me causa. É como uma terapia, alguém com quem conversar e fazer aquela famosa indagação "será que ele gosta de mim?". Gostaria as vezes que meus olhos não tivessem se rendido aos seus. Eu tinha pleno controle sobre mim e a minha vida antes disso. Agora sou um barco sem rumo a atravessar seus oceanos calmos e turbluentos. Seu humor é uma caixa de surpresas e minhas vontades ultrapassam os limites físicos. Tantas coisas acontecem ao longo do tempo e me sinto jovem quando deveria me sentir velha. No fim eu gosto de provar todos os sabores que você me oferece e sei que você deseja todas as noites os vários que eu tenho.

O que dizer de nós?

Saiba que por todas as idas e vindas tudo é mais vivo em mim. Com um amor sofrido e um momento curto as emoções multiplicam-se e os sorrisos valem mais que ouro. Saiba que você me faz mais mulher a cada "eu te amo" que escapa frouxo e que a cada partida sua eu morro mais uma vez para renascer de novo. Por isso é tão difícil apagar seu rosto e não querer ouvir sua voz. Porque a cada vestígio seu algo em mim se modifica. Uma expansão de esperança com felicidade, algo sem explicação. É sempre uma vida paralela, dois caminhos que anseiam pela encruzilhada. Veja como podemos nos fundir em um único desejo quando nos permitimos. Entenda que somos completos desde que resolvemos brincar de amar. Agora é cada vez mais complicado desfazer tantos nós e percebo que nem ao menos temos a real vontade de fazer isso. Impulsos dominam nossa vida que não pode ser como a de todas as outras pessoas. Vontades que se perdem em distâncias e medos que sobrevivem através das noites. No fim, com deslizes, entre erros e acertos, somos sempre um do outro. Como algo definido por alguém maior que nós, uma vontade que fica mínima com a demora e a espera, aos poucos cria vida e se torna uma obsessão. A cada chegada sua meu coração ainda vai bater mais forte, terei os mesmos calafrios e minha boca desejará a sua. Tem sido sempre assim. As vezes mais intenso, mas nunca menos. Meu carinho por você é algo que existe por existir apenas, ninguém criou e eu não forcei para tê-lo. Tudo o que vivemos é uma história e tanto eu diria. Uma forma de se viver levando em conta dificuldades e valores que hoje não se vê mais. Os amantes abandonam tudo com tamanha facilidade. Eu não permito fraqueza, nem me deixo vencer sem lutar. Enquanto eu tiver forças e ver em você algum sentimento real, continuarei aqui, guardando um lugar especial pra nós dois. No fim ninguém quer realmente saber o que acontece. É só vida a ser consumida e beijos a serem dados. Minhas lágrimas explicam mais felicidade que tristeza ao contrário do que você pensa. E elas continuarão correndo lentas pelas minhas bochechas, sempre querendo contar pra você o que já não cabe mais em mim. Vamos seguir nossos dias, com nossa vida singular até a hora em que seremos novamente plural. E tudo o que já passamos e o que ainda passaremos confirmará cedo ou tarde que não mais vivemos um sem o outro.

Enquanto as maçãs crescem lá fora

Tenho um vinho antigo esperando por você no meu porão. Acredite, as melhores músicas ainda são segredo e os bons diálogos ainda estão latentes. Deixei uma árvore crescendo ali fora, meu amor. Logo você terá as belas maçãs que eu cuido carinhosamente enquanto crescem. Nossa vida será serena quando precisarmos de paz. Mas também terá dias agitados quando tudo o que desejarmos é viver como jovens perdidos no tempo. Serei sempre sua cumplice dos crimes mais perfeitos. Serei sempre a mulher que deseja, da forma que deseja. Surpresas não serão surpresas apenas, mas delícias do nosso cotidiano. Eu estarei sempre em vestidos de vida e você com sorrisos arrebatadores, tudo com encaixe perfeito, na medida exata da nossa felicidade.

Nova brisa

Doces em caldas quentes e suculentas envolvem você e eu. Sabores antigos e novos se misturam e nos confortam com sorrisos e olhares que pareciam mortos. Vejo leve sua alma a tocar na minha. Sinto fresco o vento que entra pela nossa janela trazendo cheiro de vida nova e alegria. O segredo para tanta harmonia sempre foi equilíbrio. E agora estamos nessa gangorra, descendo e subindo com os dias que nos restam. Podem ser os últimos ou os primeiros. Tudo depende de como ainda podemos ser crianças e aprender um com o outro.

Razão e nostalgia

Aqui me renovo em velhos sorrisos.
Me volta o ar que havia escapado.
Os lábios não anseiam por mais nada.
Seguem meus movimentos lentos e prazerosos.
Meus cabelos vão novamente mudar de cor, eu sinto.
O tempero está mais suave e o cheiro convidativo.
Nada de medos ou fantasmas essa noite.
Só o embalo das cobertas e de uma música antiga.
Aconteceu algo de diferente.
Senti o gosto leve da vida.
Eu vejo mais estrelas, avenidas e luzes.
Uma cidade construída para os meus desejos.
Nela vou me perder e me encontrar a cada noite.
Viver de brisa com a malícia antiga e a curiosidade do novo.

Vida nova

Deslizo os olhos pelo tempo, não encontro os erros e nem onde comecei a me perder. Agora vejo minhas coisas arrumadas. Vou pegar o último trem. Passos desconhecidos por todos os lados. Vozes que ecoam palavras que não compreendo. Encaro um presente que se desfaz. Respiro uma vida que nasce cheia de expectativas. Meu coração fica guardado naquela cidade que me viu crescer. Meus pés pisarão firme em qualquer chão. Deixo tudo para trás já que alguém quis assim. Esse alguém não sabe onde, não sabe quando, mas sabe que me conheceu e vai pra sempre se lembrar disso.

A noite e a dama

Tiro certeiro. Sem mais reflexões vagas ou postura ereta. Hoje a noite as luzes cegarão a todos. Os carros romperão a barreira do som. Os semáforos não housarão o vermelho. Seus saltos estarão mais firmes e martelarão o coração de quem estiver desatento. Com o gosto do pecado nos lábios, ela estará na sua melhor forma. Sua taça rebolará lenta com venenos. Não confunda beijos com promessas. Neles a noite se fundirá. Lentos e prazeros. Tudo começará inocente e pela manhã estará acabado assim como você.

Temporal

Assim seguem-se os dias. Mais escuros e caóticos. Sua voz penetra causando dor e narrando pesadelos. Suas palavras cortam afiadas e derramam o resto de vida que ainda me sobra. Vejo flores morrerem ao longo da estrada e nada posso fazer pra salvá-las. Tinta escura borra o céu que um dia foi decorado com estrelas e sonhos. A chuva ácida está prestes a cair e varrer essa terra que não é minha e muito menos sua. Estamos desabrigados à espera do mesmo temporal. Você vai me deixar morrer?

O fim da guerra

Finalmente a poeira começa a descer. Aparecem os primeiros feridos e tantos desabrigados. É o fim de uma batalha desnecessária. Não houve vencedor, apenas destruição e desespero. Os anjos choraram por dias o sangue das crianças inocentes. Os homens se ignoraram como semelhantes e destríram uns aos outros com satisfação. As mulheres viram seus filhos partirem antes delas e banharam salgado as vestes imundas. Algumas se armaram de coragem e partiram para o fim evidente. Assim foram dias e mais dias vermelhos e negros. Barulhos ensurdecedores e gritos. O terror em asas escuras e rondar esconderijos e pastos. Nada era seguro. Cada dia era um a menos para a decisão duvina. No fim resta tristeza e pouca esperança. Vidas alteradas e chão bruto para recomeçar. É preciso força e olhos cegos pra desconstruir o agora e construir o futuro.

Andarilho

De quantas linhas você precisa para compreender que sentimentos devem nascer e morrer, mas acima de tudo existir? Quantos versos você precisa ouvir pra compreender que amor não se encontra em toda esquina? Já gastei todo o meu repertório e você ainda não se deu conta do final do show. Querido, acorde antes que seja tarde. A cidade inteira está indo dormir e só resta você querendo algo mais essa noite. É melhor ter um pouco mais de pressa, o toque de recolher já foi dado e você segue errante pelas ruas vazias. Não estou nos caminhos por onde você passa, não vou mais seguí-lo também. Contiue andarilho, sem destino, sem casa nem calor. Mas não venha bater em minha porta quando tudo o que eu for capaz de sentir não passar de pena.

Entre papéis e poeira

Fragmentando o tempo encontro você sempre de mãos atadas. Sei que costuma enaltecer situações, fazer rodeios e falar de nós como se eu fosse a fera. Porém, nunca estive com lâminas afiadas escondidas nas vestes, muito pelo contrário, sempre estive de mãos vazias esperando que as suas se ocupassem em segurá-las. Por tanto tempo não adiantei um passo na esperança de que você desse dois. Segui os dias fazendo questão de que fosse como eu imaginava, com fundo de romance e continuação quando as luzes se acendessem. Moldei o momento várias vezes e ensaiamos algumas inclusive. Porém, era preciso que eu deixasse nítido o que seria mais bonito ocultar. Sem coragem líquida eu sou apenas parte do cenário da sua vida. Foi assim e tem sido assim. Os anos entraram e saíram e eu me vi sempre cercada de mitos que fugiram dos seus pensamentos. A maioria deles invasivos e ofensivos. Nunca me importei com essas qualidades estranhas que soam como mistério e maldade. Mais uma vez, não tenho ações prontas para nossa situação, armada quase sempre com os mesmos elementos: gargalhadas, sorrisos, bem-estar e nostalgia. Esperei que com nossas vidas menos unidas você teria coragem. Mas novamente vejo que o fardo sou eu quem carrega e que esse abismo é fatal demais para você. Eu apenas gosto do perigo e do novo. Você segue cauteloso e continua estático e malicioso ao agir e falar do nosso mundo. Eu não sou nada do que você supõe e você não pretende ser o que eu apenas suponho. Deixemos as palavras de lado e também os sonhos. Tudo fica no papel, numa grande pilha de papéis na gaveta que nunca encontram a hora da publicação.

Envelhecimento a jato

Os músculos pedem descanço, a cabeça se recusa a ficar erguida. Dias acabam e começam e eu não sei como passei por cada um deles. Uma vida em branco me consumindo e me reduzindo a máquina. Já sem baterias volto ao que sou, humana. Nada quero além de boas horas de sono e nada marcado na agenda. Já não me lembro a última vez que tive tempo de me olhar no espelho e sei que não estou mais como antes, devo ter envelhecido muitos anos em algumas semanas.

Arte com as cores da vida

Sinto a necessidade de colocar alguma coisa no papel. Quero rabiscar você em traços fortes e violentos. Atravessar tinta até rasgar a folha e espalhar sentimento por toda a mesa. Vou borrar suas angústias e pintar sorrisos e beijos. Colocar em tons vivos o que você deixou aos poucos morrer. Quero um quadro que escorra vida parede a fora. Quero você colorido com as minhas cores, com as feições que eu escolhi retratar. No final formaremos um arco-íris distorcido em nuances fortes e fracas, mas sempre ligadas. Nem que eu nos pinte com rostos desconhecidos, ao menos nossas mãos estarão juntas.

O gosto das estações

A garota que escreve sua juventude busca companhia nas palavras. Encontra sossego ao forjar situações e amores. Ela vive colocando brilho nos olhos de alguém e trocando de roupa na esperança de também trocar de vida. Cada dia da sua vida parece escorrer pelos dedos com grandes e pequenos feitos, mas nenhuma surpresa. Seus amantes nunca batem à sua porta quando ela mais quer amar. Em contrapartida, quando ela é sua melhor companhia, surgem cartas, bilhetes, sorrisos e tudo mais que não seja bem-vindo no momento. É difícil entender as linhas tortas de sua vida. Uma vida que poderia ser tão confortável, como a desses filmes onde os amigos sempre estão a postos e os homens voltam atrás com buquês enormes e serenatas. A garota tende a acreditar em mundos que não existem e escutar palavras nunca ditas. No fundo ela só quer ser alguém para todos os momentos e não uma falta que varia de acordo com a estação. Ela também sonha em se sentir confortável novamente. E ela sabe onde encontrar tudo o que procura. Resta saber se este lugar ainda está lá.

Claro

Aquele sorriso sacana me gelava a alma. Ele me olhava com olhos de quem queria diversão. Eu acreditava num desfecho diferente. Tentava me livrar do que via e ouvia. Aquela voz curtida que saia da boca dele me convencia do engano. Eu relutei. Tentei entrar na piada pra ficar mais perto. As gargalhadas não foram confortáveis assim como o abraço seco e cambaleante que ele reservou pra mim. Ele não parava. A noite passava e ele brincava. As palavras que ele usava não faziam sentido. Aquele tom debochado não era comum. Tudo ficou claro com o dia. O silêncio comprovou minhas suspeitas. Eu estava querendo fazer o certo com quem não queria nada demais.

Encontros pós-desencontros

Voltamos ao zero em todas as palavras que demoram a sair. O zero significa felicidade e pés congelados. Frente a frente, sem meios para qualquer ação, nos encaminhamos para o fogo que nos consome lentamente. A vida parece mais leve, os dias parecem desesperados para passar. É preciso toque, união, tudo num abraço que não pode acontecer. Eu tento procurar as palavras de decisão antes ensaiadas, encontro só sentimentos desesperados pra serem vividos. Quanto mais procuro forças pra ir embora, vejo que só tenho para ficar.

Sorriso só

Eu decidi me deitar sozinha. Decidi não fazer mais duas xícaras de café, não colocar dois pratos na mesa e nem me preocupar em apertar a pasta de dente do jeito correto. Me sinto bem e isso me custou noites em claro. Agora tenho um travesseiro como bom amante e seu lugar na cama já perdeu a forma. Os dias passaram, suas coisas saíram do lugar, mas não foram para a gaveta. Tudo está em um saco preto la fora. Logo o camihão vai recolher e eu nunca mais vou precisar te ver.

O silêncio

O silêncio que me atormenta também me conforta. Um lago calmo e espelhado que não se move, que nada espera. Basta uma pequena gota de chuva para movimentá-lo por inteiro e despertar a fúria em pequenas e grandes ondas geometricamente calculadas. O silêncio me rouba pensamentos, atrasa minhas ações e me faz reviver ansiedades passadas. O silêncio é bem vindo aqui e agora. Ele é amigo disfarçado, tende a me irritar, mas depois me acalma. Começa agitado, jogando idéias soltas e sentimentos existentes, depois vai retirando um a um, me mostrando uma calma intensa, um momento que aos poucos some, lento e calmo. O silêncio então passa a mão em meus cabelos e me coloca para dormir. Um longo sono negro, que só anseia por beijar a luz do próximo dia.

Um presente

Não existe nenhuma canção sobre ela. Nenhum grande poeta e nem mesmo o melhor músico é capaz de traduzir a leveza que ela usa para deslizar. Mulher talhada por Deus para deixar qualquer diabo de joelhos. Subliminar sorriso de garota enérgica com um olhar de perigo eminente. Uma aura de quem sonha se mistura com pensamentos céticos. Ela transparece não se importar com quem bate à sua porta, mas se encanta com uma singela gota que borra sua janela. É garota inocente com sabor de mulher ardente. Menina que reduz o sexo oposto a espectador quando pisca os olhos e cruza as pernas. Hipnotiza quando move os lábios e usa sempre um tom brincalhão que cai bem em qualquer cena. Ela tem o humor das nuvens, serena em alguns dias e em outros, raivosa a cuspir relâmpagos. Causa delírios de amor eterno e não costuma deixar pegadas quando a noite acaba. Tomei a liberdade de escrever sobre ela no momento em que a pequena me surpreendeu mais do que nunca. Suas delicadas mãos cobriram o rosto e finalmente a vi chorar. Como um oceano invadindo minha consciência. Vi o grande dragão aos poucos se vestir de anjo. Bela criatura frágil como porcelana a balançar na ponta da estante. Quem a pintou com cores quentes se encantou ao vê-la em tons tristes. Minha pequena flor com espinhos conheceu o amor e também o frio. Por mais que eu a tenha guardado em um globo de vidro com todo cuidado, ela conseguiu me dobrar. Doce pimenta, é egoísmo querer subestimá-la e me admira alguém deixá-la ir. Pescá-la é impossível. Ela é peixe tinhoso e esperto. É diamante escondido perversamente embaixo de rios, terras e pedras. A mais bela garota-mulher que encontrei nesta cidade morta. Siga seu caminho, boneca maliciosa. Continue dançando pelos corações dos tolos amantes. Não desperdice seus belos olhos esmeralda com quem teme a sua grandeza. Invada mais casas e fuja sem rastro, deixando apenas aquele perfume embriagador no ar, o mesmo que faz tantos por aí sonhar.

Ps.: Escrito por G.

Ossos em fogo

Aquele abraço tinha o ritmo dos tambores de tribos selvagens.
Uma força animal que anulava pensamentos e focava a jugular.
Os corações se rebelaram tentando ultrapassar costelas e carne para juntos morrer.
Um instante em chamas que deixou o passado em cinzas e iluminou o futuro.

Como viver

Você pode me dar quantos dias quiser que eu vou passar por todos eles. Eu tenho sempre razão e basta o tempo passar que todas as palavras fazem sentido. Não me arrependo de nada e assim sigo, esquecendo os maus e talvez suportando os bons. Gosto das coisas do meu jeito e do meu jeito vão ficar. Na minha lei eu sou obrigada a ser feliz, melhor ainda se for em silêncio. Ninguém precisa anunciar a alegria e muito menos a tristeza.

Não dessa vez

Sinceridade toma frente aos meus delírios para descrever uma situação já comum e ridícula a meu ver. Tenho dedicado tempo, muito do meu escasso tempo. Também me desdobrei em paciência, já que nunca foi meu forte abusar dela. Construí sorrisos e aqueci meus braços para receber alguém. Inventei alegrias e me encantei por conta própria quando tudo não tinha brilho algum. Encaixei dias no calendário que não existiam, atravessei cidades, noites e qualquer coisa que encurtasse distâncias o mais rápido possível. Sempre me escondendo dos maus e evitando os bons com medo de alguma afeição em meio a tanta carência. Vesti várias personagens vendo qual se encaixaria melhor na sua noite de gala. Servi os bons vinhos em sua taça. Dediquei a você a melhor música. Você não sorriu. Você não olhou. Você não desejou e nem mesmo agradeceu. Você estava mesmo certo ao afirmar que mulheres abandonam homens quando se sentem satisfeitas? Ou você é a mulher da história, ou eu estou jogando tudo pro alto contrariando totalmente a sua teoria. Afinal, satisfeita nunca estive, não estou e não quero estar. Não com você.

Doses de vida

Quando tudo parece escrito e nada se pode fazer contra, os pés saem do chão e um sorriso amedrontado cresce na face. Desligamos quem nos controla, caso exista um controle e vivemos o agora na sua maior intensidade. Sem culpa, sem medo, sem anseios e com muita força, sorrimos, bebemos e dançamos como se ninguém nos olhasse com olhos culposos. Em certos dias, ou noites assim, o calendário parece perder as folhas todas de uma vez, como se nos encaminhassemos para o fim do mundo com a velocidade de uma bala faminta por sangue. Sinto que num desses dias que ficaram no passado vivi anos de felicidade em minutos de companhia. Agradeço à esta pessoa pelo grau de vida que ela me ofereceu em garrafas e sorrisos. Neste dia as luzes se fizeram estrelas e os figurantes pareciam bailarinos encantadores. Nunca fui tão feliz e sem culpa, tão leve que nem me dei conta da hora de parar. Tanto que ainda não parei, saldo até hoje com o gosto ainda fresco o dia em que me perdi completamente e me embriaguei de sonhos. Agora entendo o quanto meus dias têm escapado pelo ralo, um a um, sem memórias, sorrisos e até mesmo lágrimas. Depois de conhecer o paraíso, me recuso a voltar para a Terra e flutuando vou ficar.

Testes para o papel principal

Trágico fim da película que parecia tão duradoura, como um daqueles clássicos a se reviver através dos anos com os olhos cheios d'água.
Pensei nos últimos tempos, ponderei, voltei atrás, sonhei e por fim, desacreditei. Hoje decidi não mais viver de papéis, pois já conheço todas as falas e lágrimas. Nada de novo, nenhuma surpresa.
Quero nova vida e que seja real.
Coloque uma atriz barata em meu lugar.

Lucidez amarga

Cheguei a um impasse. Tenho o que quero, mas não o que preciso. Já ouvi isso em melodia certa vez e não levei muito a sério. Agora vejo que é melhor valer o preço que sempre tive. Só agora entendo que te amo e não te tenho e que você me tem, mas não me ama. É assim que se compreende que o mar é grande demais para ser atravessado, ainda mais por alguém que não quer ser salvo. Vamos afundar este navio de uma vez por todas, por favor.

A música não perde a cor

A noite se faz amarela. Enquanto isso, o tempo passa entre meus cabelos, revira meus medos e concretiza todos os meus anseios. Minha secretária eletrônica pede demissão, a pilha de contas ao lado da porta cresce e eu não ligo. Tirei férias de mim mesma, esperei visitar países em que você nunca pisou. No entanto você continua firme na portaria, fazendo o interfone ressoar uma música que eu nunca esqueci.

Quero mais que posso

Quero um café a beira mar.
Com um sol baixo distante, que timído acaricia meu rosto como se quisesse por mim se apaixonar.
Quero uma brisa leve que me sopre verdades alegres e mentiras que me encantem.
Quero areia fina escorrendo entre os dedos e o som de folhas cortantes a dançar.
Quero um mundo cor de ouro com o toque de fim do dia que me tire o fôlego e me faça sonhar.
Quero então morrer de amores pelo silêncio da natureza e ver sumir com a noite a tristeza que já não cabe em meu olhar.

A noite e suas asas

Descobri nas asas desta noite um motivo maior para voar. Encontrei mais uma vez estrelas no meu quarto. Elas brilharam forte na ponta do meu nariz revirando meus lençóis e pesadelos. Eu estava voando alto num céu cremoso de um azul doce e encantador. Resolvi voar noites a fora daqui pra frente. Não vou te convidar, afinal de contas você é muito pesado pra sair do chão.

Sobre encontros e desencontros

Meus horizontes se confundem com as paisagens daquelas fotos antigas. Já não sei qual tem melhor gosto. O antigamente ao seu lado ou o atualmente novamente ao seu lado. Os anos se passaram, os centímetros aumentaram e as idéias se emaranharam. Modificamos nossas palavras numa tentativa de expor o nunca exposto. No entanto elas ainda se fecham pra camuflar o evidente e tornam interessante cada volta minha para casa. Temos desejos e sonhos interligados num sono que vai além do real. Temos medos e anseios que passeiam pelos telefonemas e recados. Não podemos esquecer que temos ainda muita vida e isso significa muitos encontros. Inegável dizer que nosso tempo corre igual e que em todos os cruzamentos dessa cidade estão grafados nossos nomes.

Solução drástica

Estou me tornando superficial e ignorante a cada linha que escrevo sobre você.
Portanto pretendo não mais escrever.
Pelo menos enquanto você estiver nos meus pensamentos e nas pontas dos meus dedos.

Doença

Seu egoísmo escorre pelas minhas veias. Feito doença, surgem os primeiros sintomas. Seu prazer em me ver no chão escorre salgado na minha face. Sua malícia ainda é a mesma, intercalando doces e venenos. Sem ação me vejo pequena, do tamanho exato do frasco em que você me aprisiona. Lutando contra sua loucura acabo encontrando a minha. Você é doença sem cura. O fim da minha humanidade.

Quanta gentileza

As palavras que me encantam saem dos meus própios pensamentos.
Mas não me agrada ser o cavalheiro e a dama da mesma história.
Os dias passam lentos e eu sigo moldando meu romance.
Me mando flores e me elogio todas as manhãs.
Enquanto isso você dorme e espera o café.
Logo você esperará por mim também.

Memórias geladas

Vou juntando as poucas lembranças que ainda me restam. Cacos de sorrisos, brilhos dos olhares e qualquer vestígio de alguma felicidade. Você partiu dizendo que logo voltava. Deixou a porta aberta jurando que seu calor aqueceria minha casa enquanto estivesse fora. Grande engano nosso. Mais meu do que seu, com certeza. Hoje fui perceber que há séculos você se foi. Hoje fui sentir o frio que corre por esses corredores. Nada mais tem o seu cheiro. Não vejo mais fotos nem escuto aquelas músicas. Talvez porque eu mesma não encontro mais nada. Talvez porque você mesmo fez questão de carregar tudo. As dúvidas brotam e morrem em segundos. Na mesma velocidade deixo de pensar em tudo, esqueço de mim e enterro você.

A espera

Mais uma vez estou com as mãos no queixo diante da janela sem vidro.
Nada vejo ao longe.
Não escuto sua imagem.
Nem vejo sua voz.
Já troco sensações, esperando trocar também os sentimentos.

Decisão final

Fim da linha.
Ou se joga abismo abaixo ou me encara de frente.
Qual das opções vai doer mais em você?
Em mim ja tanto faz, mas por orgulho estou aqui.
Quero te empurrar ou te abraçar.
Estou pronta pros dois extremos.

O carvalho e a borboleta

Balançando na rede de suas lembranças ela pára pra olhar seus últimos quinze meses. No início era casulo feio e gosmento colado no tronco rígido. Lentamente se rendeu à metamorfose e com sofrimento se livrou da sua prisão particular. Passou a ser vistosa dama de cores e sonhos. Voava feliz sempre retornando ao mesmo lugar, o velho carvalho. Sentia um amor infinito por ele. Queria sempre impressioná-lo com sua dança, mostrar a ele sua mimosidade e arrancar alguma reação positiva. Religiosamente ela se empenhava em hipnotizá-lo, pois tinha medo de perdê-lo para outra que se colocasse em seu caminho. Ele não esboçava afeição pela graciosa, mas exigia a constancia de suas visitas. Como se ela desse a ele um show particular que o tirasse de sua seriedade por uma fração de segundos. Drasticamente ele sempre apagava as luzes sem aviso prévio, a expulsava sem explicações e dizia que queria um tempo só. Ela se sentia cortada e mal voava de volta pra casa, sempre pensando em qual teria sido o erro da vez. Para garantir a atenção do casca grossa ela se fez palhaça, feiticeira, sábia, boneca e qualquer coisa que parecesse entretê-lo mais. Mudou tanto em pouco tempo. Moveu mundos para satisfazê-lo. E ele nem a elogiou. Tudo mudou com o tempo, menos ele. Sua casca continuava dura, suas folhas se soltavam lentas e era infestado por insetos asquerosos. A dama no auge da sua beleza e juventude sentia falta da sombra do carvalho e ainda esperava que ele sorrisse pra ela algum dia. Espera inválida e pesarosa. Tudo que ela recebia era ingratidão. O egoísmo dele a sufocava e ela aguentava como podia, sem no fim poder mais. As cores da notável de outrora foram se esvaindo, suas antenas se encurtando e suas patas se fragilizando. Logo voar já não era um espetáculo e a viagem ao carvalho deixou de ser acolhedora. Ela estava cansada dos shows e dos truques, mais cansada ainda de como tudo acabava sempre. Foi então diminuindo as visitas, se conformando com seu fim evidente. Era a solidão que escurecia suas asas e também seu coração. Seu reinado psicodélico deu espaço a trevas. E o carvalho? Ele não se moveu como já era esperado. Ficou longe chorando por dentro o que ela transbordava por fora. Dias, semanas, meses. Ela juntou tudo numa sacola e partiu. Foi para outro mundo. Preferiu não mais olhar pra trás e hesitou até mesmo em se despedir.

Euforia solitária

A sincronia das bolhas que sobem desesperadas para docemente derramar da minha taça é um espetáculo perfeito. Lenta e saborosa a bebida vai banhando toda a mesa enquanto lava meus anseios. Tudo parece tão estático fora isso. Movimentos quase nulos. Tudo tão engraçado. Talvez eu tenha abusado das bolinhas coloridas ou é só emoção demais. Minha cabeça parece uma televisão com defeito. Barulho ensurdecedor, chuviscos e cores. É tudo que tenho hoje e sinto como se tivesse o mundo. Consciente de que preciso de um plano, começo a rabiscar guardanapos. É tarde e todos foram embora, mas a música ainda está boa e tenho que saborear tudo que não vivi em meses de guerra. Quando o sol raiar talvez eu esteja em casa. Seja deitada com meu pijama favorito ou vestida com a sua camisa. É só a minha forma de passar o tempo.

O sabor da satisfação

Diamantes brilham na minha boca. Entendo enfim que nunca houve alguém acima. Sempre fui o centro de tudo e nunca estive errada. Não pondero ações passadas, nem tenho tempo pra arrependimento. Lamentações me parariam no tempo e ele existe pra ser consumido. É a lei natural.Tenho minhas palavras estranhas e meus pensamentos insanos, exatamente tudo que preciso pra seguir adiante. Escrevo textos persuasivos pra ganhar dinheiro e sigo a linha surreal pra relaxar. Sinto o gosto apimentado do caminho que escolhi e não poderia ser melhor.

Recaída estrelada

Hoje perdi a cabeça e me perdi com ela. Um banho de idéias lavou minha mente e secou ao tocar o real. Apaguei cada impulso, um por um como quem coloca a igreja pra dormir. Alguns frouxos me escaparam disfarçados de palavras desconexas. Se fizeram sentido pra quem menos poderia fazer eu não sei, mas foi faísca suficiente pra acender uma fogueira. Espero que o fogo dure até amanhã já que vai ser a única companhia desta noite. Estrelas brilham no teto do meu quarto, mas elas se juntam pra me dizer que estou enlouquecendo. Sorrio enquanto contemplo, tremo enquanto penso. Por fim desisto de sensiblizar a situação. Venho tentando me convencer de que a razão pode me libertar. Ainda estou relutante como podem notar, mas nada que eu não consiga. É questão de tempo. É sempre ele quem manda pelo visto.

Samba no lago

Vou dançando a música certa com passos errados. Feito cisne, meio pato sigo leve a bailar. Não me intimido com os curiosos nem me perco nos tropeços. Trançadas vagarosas e cheias de graça trazem a tona esse meu samba sem raiz, que tímido, vai levantando poeira no coração de quem assiste.

Conversando sobre o conversar

Entendo que a vida em cinza tem seus efeitos colaterais. Eu gosto do meu chá a luz de janelas e gosto do quase sono a base de buzinas inquetas. Mas ando refletindo mais sobre o meu cotidiano. Ponderando condutas e colocando as manias na mesa, ja que assim prefiro dizer. Descubro nisso tudo mais sobre o que sou. Algo que me soa engraçado a primeira vista. Digo de passagem que adoro descobrir coisas novas sobre o meu eu, quase uma terceira pessoa quando colocada nessa situação de exploração. É uma externalização que me diverte bastante e rende noites acordadas e sabores mais fortes às refeições. O caso em questão trata das minhas conversas com as pessoas em geral. Eu que sempre fui satisfeita com a minha condição mundo da lua sinto falta de estar com os pés no chão às vezes. Nunca fui de sorrisos desnecessários ou palavras frouxas, que escapam da boca sem importar o conteúdo ou o receptor. Continuo assim. Fria como muitos dizem, Alheia como outros preferem e normal como eu entendo. O contato ou uma conversa prolongada ainda me assustam. Com mais de duas pessoas ao mesmo tempo então! Deus me livre! Acho complexa a interação em si. Não sei se devo olhar diretamente nos olhos, se posso ou não piscar, se passar os olhos pela boca é indevido, se olhar pros lados pareceria desdenho, se desistir quando está chato explicitamente faria de mim uma pessoa medonha e por aí vai. Não sei. Somam-se perguntas e risos internos quando estou no meio de um diálogo. É minha diversão favorita, quando estou disposta a olhar o lado bom disso tudo, claro! Por que por outro lado uma simples conversa me deixa tonta. São possibilidades demais, reações físicas demais e informações úteis de menos. Engraçado como consigo me externalizar aos meus olhos, mas não em público. Mas gosto tanto disso tudo, porque quando começo a pensar na hora do ato, vejo as coisas acontecendo em camera lenta. Olhos se movendo dengosos,língua golpeando o céu da boca, mãos a se esfregar. É tudo tão bonito que me perco no assunto e fico por admirar apenas. Por fim não sei o que falei nem o que ouvi e dou início à minha fuga desajeita de cena. É o que acontece dia após dia. Uma conversa pra mim é quase um filme, com cenas fortes, imagens grandes e palavras, muitas já surradas, outras novas e fascinantes. Como todo filme, as vezes gosto, as vezes não. Será que mais alguém nesse mundo encontra tanta euforia num diálogo? Acredito que não. Mas volto ao início deste texto, mais especificamente quando falei da falta que sinto de estar mais perto do chão. As vezes cansa toda essa observação constante. É estranho pensar e ver as coisas tão diferente da maioria e com tanta força.O meu "jeito desajeitado" como acaba parecendo me incomoda um pouco. Minha diversão poderia se estender aos outros. É chato brincar sozinha. Enfim... Basta. Já analisei demais e já cansei de falar sobre. Ainda bem que escrever é sempre um monólogo, assim consigo manter o foco e a paciência.

Inimigos a meios lençóis

Ele vive para ostentar suas armas. Com seu sorriso de ponta cabeça, quer me mostrar alegria. Um sorriso cerrado, com mais aura de raiva que de ternura. Insiste em explicar que o tempo é maior que eu, assim como qualquer coisa que se coloque na sua frente. Ressalta arquivos mortos e parte para a guerra. Ele com sua artilharia imponente e eu com minhas palvras embaixo do braço. Não vou levantar bandeira branca, nem vai brotar nele um sentimento de misericórdia. Então que venham ventos negros. No fim veremos de quem é a maior força: A sua para destruir ou a minha para reconstruir? Garanto que estarei em pé muito antes de você.

A travessia

Parada em frente à porta não consigo tocar na maçaneta. Fitá-la é como fogo ardente que gela meu coração em contrapartida. Num arrepio que começa na cabeça e se espalha como seiva até os dedos, me vejo tomada por uma ansiedade nada comum. Seu casaco ainda pendurado na entrada me faz acreditar que ele ainda está quente. Mas não ouso mais que supor. Lá fora a luz brilha forte, mas assusta pela beleza. Ela destemida perfura vãos na madeira e se joga no chão ao meu lado em fragmentos brilhantes e sutis. Talvez seja um sinal de que tudo fica bem do outro lado.

De mala pronta

Alienação opcional é o que escolhi por uns tempos. Trabalhar sem pensar no fim de semana. Dormir sem pensar no sia seguinte. Sair de casa sem pensar na volta. Levo o mundo no bolso e deixo as lembranças em cima da mesa. Na mala não cabem sorrisos alheios. Só os meus.

Ressaca de carnaval

Finalmente cornetas se calam, bailarinos descansam, serpentinas se entulham pelo chão e as ruas voltam ao vazio cotidiano. A ressaca da alegria de muitos ainda é a festa da tristeza de outros. Pierrot não acha graça no Carnaval. O interessante é que muitos ainda zombam do coitado se fantasiando com suas lamentações. Talvez apenas o Pierrot entende o que é ter lágrimas amargas e facas afiadas ao invés de sorrisos estampados e confetes em mãos. Lágrimas encombrindo o passado e facas para matar o que dele vier assombrar. Sigo despedindo da folia, tirando meu bloco da rua. A festa acabou antes mesmo de começar. Mas eu não tenho pressa, meu carnaval é mais animado fora de época.

O interrogatório

Os dias somam-se às minhas perguntas. Já nem sei se vivo mais dias ou se faço mais perguntas. Investigações minuciosas que parecem querer arrancar de mim a todo custo a verdade. Mas eu não sei qual verdade. A luz forte balançando sobre nossas cabeças. Você me interroga e eu te devolvo o ponto. Deixo tudo na narrativa e compartilho a minha loucura com você. É como um virus, caro amigo. Começa lento. Algumas dúvidas. Pensamentos frouxos que você nem sabe por onde escorregaram. E por fim, a paranóia. Esses questionamentos não vão te levar ao dia do crime. Você não sabe aonde quer chegar por isso não sabe por onde começar. Tão simples. Tão doce. Tudo não se passou apenas em uma noite. Vasculhe mais, encontre o calendário. Nele marquei cada singelo dia que passou por você despercebido. Os mesmos dias que me arrancaram lágrimas, sonhos e palavras.

Passado ainda presente

Parei de registrar banalidades durante momentos de extrema felicidade, talvez porque cheguei a pensar que escrever tomaria meu tempo tão interessante naquele momento. A verdade é que os dias excitantes se foram. E novamente estamos frente a frente. Eu e a tela brilhante. E agora o que tenho a lhe dizer? Nada de tão gracioso. Tenho lamentações apenas. Mas não vou desgastá-la com coisas do tipo, minha querida. Quero apenas que saiba o quanto estive bem dias atrás. Uma felicidade de molhar os olhos e encher os pulmões. Se eu tivesse morrido teria sido sorrindo, sem desejar nada a mais ou a menos. Imagine agora o vazio em que me encontro. Mais uma vez é preciso aguardar, aguardar, aguardar...