Antes de dormir

Ela fita os vãos da janela. De ponta cabeça, tenta formar imagens com as nuvens. Talvez ela quer mesmo é formar pensamentos. Os minutos correm. A trilha sonora já não é tão empolgante. A luz azul enche o quarto e seus olhos. Lentamente vai mergulhando em memórias distantes e episódios recentes. Não sabe qual tem melhor gosto, mas está certa de que nunca imaginou estar ali.

Cotidiano

Faz um bom tempo que não corro meus dedos pelo teclado querendo dizer algo que nem todos entendem aqui. Resolvi retomar essa alegria momentânea, até porque não estou vendo nada melhor no momento. Não tenho grandes histórias nem palavras melosas ou de impacto agora. Só uma vontade de falar com alguém. Que no caso, só pode ser meu computador. Interessante minha interação esses tempos. Acordo sem "bom dia". Tomo café com a Ana Maria Braga. Fico os 10 minutos de sempre procurando minhas chaves e enfim saio de casa. Começo esperando o elevador. Dentro dele é engraçado, as vezes é preciso dividir o cubículo de metal com mais alguém. O intrigante é que os olhares são rápidos, os gestos cautelosos e as palavras pouquíssimas. Mas é um dos poucos momentos do dia em que ainda me deparo tão de perto com alguém da mesma espécie. Momento marcante de fato. O "oi" para o porteiro. Pobre porteiro, passa o dia com sua caixa mágica a cores e só, ouvindo estalos de portão travando e destravando. (A parte que odeio é acordá-lo de um cochilo bom.) A partir daí, só rua, velocidade, olho no relógio sempre. De repente muitas pessoas aglomeradas, mas nenhuma que eu me lembraria depois. Complicado isso. Mas também... Me lembro de pouca coisa. [risos] Acho melhor assim. E ruas e mais ruas. Rodas. Pernas. Tudo se mistura. E quando os ruídos acabam. Estou de volta com o velho amigo computador. Companheiro de refeições. Informante do mundo. Ele me consola com seus horóscopos. Me condena com certas reportagens. Pena que não alivia minha dor nos pés e nas costas. Mas é um excelente companheiro na hora do café. Manhãs, tardes e noites frente à luz hipnotizante da tela quadrada. Meus dedos já se movem por si só pelo teclado. Mais uns biscoitos. Mais uma olhadinha pra televisão, que outrora já foi companheira. Mas isso foi antes, nos tempos em que os desenhos eram legais. Quando eu achava que beijos eram nojentos. [risos] Boa época a infancia. Voltemos ao relato de um dia da minha vida correspondente a um de "feira",claro. Chega a hora de cama sem "boa noite" e reviradas de insônia. É sempre um longo caminho até que tudo se apague realmente. Mas é nessa hora que tenho silêncio, escuridão e raramente um sonho. [risos]

Tempo

Tempo, me dê um tempo
que eu não to com tempo
nem pra pensar em você.

Ser ou não ser

Soa engraçado quando te apontam uma característica.
Soa trágico quando se reconhece uma característica.
Duas frases com algumas palavras iguais e conteúdos desesperadamente diferentes.
O "desesperadamente" é por minha conta, assumo a responsabilidade.

Insônia

As luzes da cidade estão brilhando amigáveis querendo companhia.
Me perdoem pela frieza minhas queridas.
Mas gostaria que ficasse pra depois essa conversa.
Acredito que as entediaria ao abrir a boca.
Até porque dela não anda saíndo nada novo.
Estou piscando a mesma cena.
Estou sorrindo atrasado.
Bem como chorando demasiado.
Desculpem queridas sentinelas.
Talvez hoje seja um bom dia para tirarem folga.
Durmam assim como eu.
Ou melhor, me façam dormir.

Bonita camisa

Diga alguma coisa, vamos lá!
Mas escolha bem qual das faces vai usar.
Estou cansada de ver algumas delas.
E mais ainda de como soa sempre igual o que me diz.
Você tem um coração bipolar.
Mas eu tenho uma mente sensata.
Bonita camisa querido.
Péssimo discurso em contrapartida.

Pôr-do-sol particular

Os postes passavam lentos pela janela.
Os olhos fitavam ressecados a vida cinza cotidiana.
Os pés ardiam enquanto os braços adormeciam.
Os homens se apertavam enquanto as mulheres tagarelavam.
Os músculos pediam sossego.

Sem pressa se rendia o sol.
Ainda quente, ainda odiado por mim.
Descia lentamente como se zombasse da cena.

E assim seguia o fim de tarde.

A mão se fechava cada vez mais.
A boca trancafiava as palavras já poucas.
A vida murchava lentamente.
A cidade morria diante dos olhos.

E assim seguia o fim de tarde.
O meu fim de tarde.

O rascunho do fim

Sempre olhando nos seus olhos.
Desejando que eles se demanchem pelos meus.
Nunca vejo nada além de uma apatia evidente.
Sinto gelada a sua respiração.
Percebo inválida a minha imaginação.
Vejo o quadro borrar as próprias tintas.
Luto com as flores que secam no jardim.
Aspiro o tédio que exala de você.
Rasgando uma possível fotografia.
Desatando mãos que nunca estiveram juntas.
Sigo sobrevivendo em seu território.
Suportando a sua presença.
Pra fazer valer a minha.

Quilômetros de saudade

Ser amante.
Ser distante.
Ser errante.




"O fracasso é natural" como disse mais uns dos amigos embalados pra viagem que faço nas estradas da vida.
Eu com quilômetros de sonhos em espera.
E ele em segundos de conversa superficial destruiu tudo.
"- Que desperdício ficar tanto tempo com uma pessoa só para descobrir que ela é estranha. Espere.
- O quê?
- Não sei. Só espere. Só espere. Eu não sei. Quero que espere... um pouco.
- OK.
- Mesmo?
- Não sou um conceito, sou só uma garota ferrada procurando por paz de espírito. Não sou perfeita.
- Não vejo nada que não goste em você.
- Mas verá.
- Agora eu não vejo.
- Você vai achar coisas. Eu vou ficar entediada e me sentir presa, pois é isso que acontece comigo.
- Tudo bem.
- Tudo bem."


Ah o cinema...

Estaticidade de efeito

Engraçado quando o mundo pára e só a cabeça gira. Mais engraçado ainda é ter passado pela sua cabeça "coisa de bêbado" enquanto está lendo. Mas não... Descobri que a cabeça gira e o chão sai do lugar sem álcool no sangue. Não sei se agradeço pela sensação ou me aborreço pela situação. Só sei que mais uma noite sem sono segue ainda infantil. Amanhã o dia vai nascer contrariado nem que eu tenha que queimar o céu inteiro pra conforto próprio e adequação de personagens ao cenário. Amanhã as tão fofas nuvens não vão passar de cinzas.

Sol e vinho

Larga essa taça de vinho
Já estamos rodando faz um bom tempo
O dia vem nascendo
E você segue murchando

Agora eu visto as cores quentes do raiar
E você se encobre com o entardecer
Quando durmo você acorda
E assim seguimos nessa dança de roda

Larga essa taça de vinho
Já estamos rodando faz um bom tempo
O dia vem nascendo
E você segue murchando

Larga essa taça de vinho
Rapaz, quando você vai aprender
que tristeza não varia de safra pra safra?

Os vasos

Continuar se estranhando nas calçadas não vai nos devolver a paz.
Assim como usar o corpo e deixar a alma no cabide não vai tornar a situação mais imparcial.
Por que temos que mudar a voz pra falar um com o outro?
Por que os olhos evitam o encontro enquanto as bocas tentam camuflar o não dito já tão evidente?
Deve ser burrice ou talvez orgulho demais.
Dois vasos de vidro esperando conformados a hora de tocar o chão e virar pedaços mínimos da beleza que já existiu.
Dois fugitivos amadores jurando viver sem lei.
O retrato cômico de uma realidade tola.
Quem vai dizer a hora de se entregar?
Eu ou você?
Já engatilhei e estou na metade do caminho.
Confesso que a vontade de olhar pra trás é diabolicamente irresistível.
Quase um roubar no pique-esconde anos atrás.
Mas não vou adiantar nem apertar o passo.
O tiro sendo certeiro o fim também é.

Agora

Recolhe suas alegrias.
Coloque aqui na sacola.
A gente vai dar um passeio.
Seja por areias quentes ou pedras frias.
A gente só precisa andar.
Andar e andar.

Engarrafando sonhos

Continuam me dizendo pra largar manias. Como se algum ser humano fosse certeiro ao fazer isso. Embalar hábitos não torna ninguém livre dos seus vícios ou desejos mais absurdos. Estão se valendo de argumentos tocantes a primeira vista. Cantarolam sonhos, descrevem aspirações, colocam pra fora um ser ufanista que garanto que nunca viram como estou vendo. Um ser que brota pela boca e morre ao tocar o ar. De que vale senhores e senhoras toda essa paixão fulminante pela "grande realização" sendo que ao estufar o peito a magia começa a desaparecer? A realidade que entra nos pulmões sufoca ao invés de acalmar. É... Essa é a fumaça do nu e cru que existe diante de todos nós. E assistindo a essa mesma cena várias e várias vezes, claro, com protagonistas diferentes, me pergunto. Tudo fica nessa espectativa futura? É assim que se motivam a viver? Quantas manias e pequenos prazeres precisam morrer para que não se desvie da rota do seu grande sonho? E pra que tanta euforia se no mesmo instante o banho de realidade é gelado? Me desculpem, mas prefiro sonhar todos os dias e saborear cada pequena realização como se fosse a primeira e última. Porque sonhar grande e viver uma vida regrada não é pra mim. Se todos precisam necessariamente ter um grande sonho, então o meu é realizar todos os meus pequenos até o dia da minha morte. Sonhos não são vinhos. Eles não são mais valorizados com o tempo e nem ganham mais sabor. Pelo contrário... São esquecidos e o gosto é cada vez mais amargo.

Noite sem voz

Desconfiado ele pensava. Sob a chuva fina e congelante ele ponderava. Já não ligava para o filete de água que escorria pela testa. Já não fazia questão de saber se o céu só estava escuro por causa do tempo de luto ou se estava realmente cedo demais para o sol. Não queria se atrever a olhar as horas. Ele buscava qualquer forma de diluir o sal das espaçosas lágrimas com a chuva, mas parecia impossível. A chuva varria a rua, quase silenciosa, como se apenas não quisesse deixá-lo sozinho. E ele ignorava sua presença. Ignorava qualquer possibilidade de sedução. Pouco importava a dança da água que caia ou a forma como acariciava suas costas. Ele estava apático, vivendo aquele como se fosse o último dia da sua existência. Concentrado em não se concentrar. Fadado ao conformismo. Não passava de um homem vestido de menino olhando sem focar a grama brilhante onde seus pés se acomodaram por horas. Ele esperava. Esperava pelo fim da tempestade. Esperava que não fosse verdade. Esperava que pudesse conviver. Esperava que pudesse esquecer. Amansado pelo cansaço ele admitiu que conversar com o pai nunca tinha sido tão difícil em toda sua vida. Simplesmente porque dessa vez não passou de um monólogo. Inevitavelmente a primeira de muitas vezes em que falaria sem resposta.

E quem não faz isso?

Eu conheço as suas fraquezas.
Eu ornamento os seus desejos.
Destruição angelical.
Alegria pessoal.

Escrevendo o segundo.

Efeitos estimulantes e descargas de obviedades se somam numa contradição constante resultando num tédio sem começo nem fim. Acho isso engraçado, mas não muito fácil de entender. Então não queiram que eu me explique bem. Me sobra escrever com ar de confusão mental e satisfação sensorial. Provavelmente o objetivo subjetivo, se é que me entendem, é só registrar um momento peculiar de um dia tão pacato. Então que assim seja.

Pra não dizer que não falo de mim

Deixem as capas para os heróis.
Deixem os discursos para os confiantes.
Eu não tenho com o que aparecer.
Nem preciso de uma estátua no meio de uma praça.
Sou a vida na sua simplicidade.
Não quero ser lembrada.
Ser pendurada na parede ou viver de boca em boca.
Quero mais é descanso...
Quero mais é viver e morrer.
Morrer apenas.

Companhia

Traz mais uma cadeira
Senta que o teto é firme
Nenhum dilúvio derruba a gente
Enquanto isso solta seu verbo
Fala da vida na gota de chuva
Que eu te conto um pouco do mundo
Um pouco do mundo
Um pouco de tudo

Rascunho

Naquele canto tem espaço sobrando.
Naquele sonho tem alguém faltando.
Sinto falta de alguma coisa.
Alguma coisa sem nome...
Alguma coisa que eu quero tanto...
Alguma coisa que um dia se chamará você.

Fim da chuva

Longe vai o som dos seus sapatos no asfalto molhado.
Sente a brisa que o tempo vem trazendo.
Não é boa hora para ir embora.
Volta com o sol.
Fica mais um pouco.
Que eu te faço um chá.
Te trago um calor inventado.
Num cobertor de amor.

Lugar nenhum

Sem querer acreditar... Acredito sem querer.
Deve ser o mal de quem não pensa o mal ou o bem de quem só pensa o bem?
Brincar de confusão é melhor que buscar explicação.
Na verdade...
não quero ligar pra nada disso não.

Retrato

O dia acordou rosado depois da noite que caiu.
Juntei as coisas e saí por aí.
Juntei os pedaços e me vi por aí.
Na bolsa levei você.
Na alma levei a gente.

Breve

Canto.
No canto.
De canto.
Sem canto
Canto.

Desabafo pra abafar

Dizem por aí que conversar resolve tudo.
Dizem por aí que ainda ando em silêncio.
Dizem por aí varias coisas sem pé nem cabeça.
Mas ficam nessa... Dizem.
Que tal ocultar palavras?
Que tal desobstruir a visão?


"Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz"

Alguém aí?

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinícius de Moraes

Quando alguém fala por mim.


"L'être avant la lettre


la vie en close
c'est une autre chose

c'est lui
c'est moi
c'est ça

c'est la vie des choses
qui n'ont pas
un autre choix"

Paulo Leminski




Esse é O poema!

Sobre silêncio

"Há pessoas que têm alguma coisa a dizer, e há pessoas que têm de dizer alguma coisa."

Mais do que nunca tenho que mexer nas estruturas. Pode não ser fácil, mas não está perto de ser difícil também. Engraçado é ter alguma coisa a dizer e mesmo assim não dizer. Mais uma vez fora da regra e não sei nem mesmo quando isso começou. Ainda dizem que silêncio nunca é demais.

Viva Monteiro

Não acredito que precisei ficar cara a cara com Roberto Dualibi para conseguir incorporar perfeitamente o espírito literário da publicidade. Com certeza vou guardar comigo a receita infalível do mestre, mas como não me contento, vou acrescentar mais alguns ingredientes já que essa vida ta só começando. O que importa realmente foi a injeção de ânimo que ele me deu. Grande homem Dualibi profissionalmente, muito maior como ser humano. Engraçado foi descobrir sua afeição por Monteiro Lobato.

Monteiro Lobato, o homem que descobriu na falência um Brasil necessitado, um Brasil diferente do que ele vivia até então. A diferença foi que ele não ficou apenas olhando. Essa vitrine de doenças, miséria e ingorância não o deixou seguir a vida de antes. Ele então começou a questionar e encontrar caminhos. Em seus personagens ele depositava sua visão crítica. Personagens estes que dialogavam com as crianças, que interferiam nas bases da estrutura brasileira. Inteligência e criatividade, além de uma boa didática fazem de Lobato uma das minhas maiores inspirações. Educação, a porta para melhorias.

"O grande legado de Monteiro Lobato foi o de sua independência. Independência moral e independência intelectual. Era um homem livre, que queria todos os homens livres."
Roberto Dualibi

Sem meios, com fins.

Pedras, botões, balas.

Nada tem encaixe perfeito na minha vida.

Listras, pingos, suspiros.

Quem sabe eu não faça questão de me encaixar também.

Beijos, cores, agulhas.

Alguém faria questão de se encaixar a troco de nada?

Letras, caixas, morangos.

Certamente é de modo inocente (finja que acredita) que digo:

Não queira ser sigular, vivo de plural.

Faço coleções, mudo estações e crio confusões.

Ocasionalmente, orgulhe-se de ser um furo na minha roupa preferida.

É o modo mais certeiro de chamar atenção caso pretenda que eu me importe com alguma singularidade.

Palavras alheias...

Por que sempre é válido repassar algo que chamou a atenção por mais simples ou complexo que seja. E hoje vale se apossar de palavras alheias já que as minhas não estão afim de se encaixar.

"Um discurso, quando o desejo é calar

Somos criados para aplaudir a mais dramática das desgraças; estamos acostumados a rir do sofrimento e derreter de comiseração pelas misérias. Mas a reação que temos diante de uma alegria pacata, digamos, de atirar pedrinhas no lago, é bem diferente. Bocejamos, viramos a página, mudamos de canal. A bonomia é coisa muito fastidiosa, sobretudo a dos outros."

Diego Viana



Obs.: Vale lembrar que bonomia é bondade.
Talvez Yann Tiersen possa reorganizar toda essa bagunça que acabei de fazer.

O ser humano é tão vidro que me admira o fato de ainda vivermos nesse mundo. Sem palavras concretas para o dia de hoje. Nenhuma vai conseguir trazer satisfação ou condizer realmente com o que penso. Melhor me poupar. Melhor reviver o ontem. Não é o correto, mas é um conforto.

fênix desajeitada.

É chegada a hora em que paro e vejo que o gosto voltou, aquele sublime sabor que motiva, que antecede a ação. É... eu tinha enjoado de escrever tão fora das linhas aqui... Toda essa ausência de limitações e tantas possibilidades à la carte me encantaram num primeiro instante. Depois virou rotina, depois virou o caminho de todos os dias a um lugar comum. Como sempre, enjoei. Engraçado... Apesar de tudo ser engraçado segundo uma pessoa muito interessante. Não deixo de concordar. A verdade é que estou atrás de ocupação para os longos dias que seguirão. Dias em que me tiram toda e qualquer alegria. Aquele vazio. Sensação de impotência diante do passado tão recente e bom. Mas isso é conversa minha e não seria adequada agora. O que vale é o renascimento do falecido blog que mal teve seu início. Daí convém relacionar a situação um tanto quanto banal - diante de tantos acontecimentos mundiais - a algo que tem sua existência das cinzas. E vale relembrar ou talvez explicitar, para quem não me conhece, que não escrevo o que querem ler. Não estou aqui para divertir ou informar, apenas para exercer meu direito de me expressar.

hedonismo.

Existem muitas forma de se satisfazer não é mesmo? Foi colocada em discussão uma pequena questão pessoal. O meu ponto(.)! Sim. Não acreditam que eu goste dele e nem que me cause algum efeito utilizá-lo. Eu não me importei como deveria na hora. Mas um pouco antes de dormir e ao longo de alguns dias me dei conta do quanto isso me encomoda. O ponto na verdade me encomoda. Sem ele parece não ter sentido. Com ele parece ter um fim prévio assim como eu gosto de fazer com tudo na minha vida. E fazendo esta associação me dei conta do encomodo. É bem verdade que listras me encomodam, bolas também, faixas, pisos... Tudo! Mas o ponto vai além. Ele realmente interfere na minha forma de agir cursivamente. É absurdo. Mas se no lugar dele tiver uma vírgula, qualquer texto perde a forma, qualquer frase fica sem sapatos. Isso! As frases sem sapatos. Ninguém sai na rua teoricamente descalço. Por que meu texto deveria ficar sem seus sapatos? Mas a verdade é que pra mostrar inconscientemente pra mim mesma que o ponto não é lá tão dominador assim eu uso variantes até inexistentes e acho que fica esteticamente bem melhor. É aí que vem o grande problema! Incomodo os outros e satisfaço a mim mesma. Acontece que a satisfação é enorme. Um pequeno paraíso particular. É completamente aceitavel na minha cabeça olhar pro que escrevo. É confortável. Parece estar no lugar certo. Alias parece não, está! É tão egoísta assim da minha parte usar o ponto da minha forma e chegar a causar estranheza no outro? Engraçado. Quem por acaso vai arrancar as rachaduras das paredes que me causam tanta agonia? Quem vai sumir com descascados que surgem por aí nas grades, nos muros e com formas geometricas da calçada então?! Imagine se os vãos entre um bloco de concreto e outro não existissem! Pois é... Existem. E me incomodam. Meu ponto incomoda muito menos as pessoas do que o mundo me incomoda. É só um pequeno prazer. É só meu particular. Lívi.a
Que tal algo em que eu comece falando sobre virtualização. Pois então, depois de uma injeção de leituras desnecessarias ao meu completo ver, me senti instigada com a tal virtualização. Hoje até transplante é virtualização! Sim... Verdade. Autores consideram a troca de órgãos entre pessoas sejam vivas ou mortas, uma forma de "externalização" do interior humano. Como se fosse algo abstrato, absolutamente fascinante e inovador. Vejamos bem a história, sabemos de cientistas que roubavam cadáveres para estudos internos. A lobotomia era prática costumeira na Idade Média. Mas agora os raios-X são realizados por máquinas assim como o resto da parafernalha medicinal. Sociedade materialista. Acaba bem óbvio o quanto essa questão de virtualização só englobou o corpo humano por causa das interferências religiosas no caso. Todo mundo sabe o quanto antigamente aquilo de "meu corpo é meu corpo" era bem forte. Agora tudo está menos sério. Tudo baseado no intuito de prolongar vida como dizem por aí. Acho a visão antiquada tão cômica quanto a nova, em diferente grau no entanto. Mas isso não vem ao caso. Alias... Nem essa tal virtualização deve interessar a alguém. Eu e minhas idéias. Disse que começaria falando sobre virtualização. Pois acho melhor acabar falando disso também. Enjoei desse tema. É... Acontece. Dali pra cá. Estou entediada. Fim.
Como diria Vaquer com seu "estilo Caetano de saia", acordei com as cores passando rápido. Não havia tons pastéis. Era mesmo um momento de fúria encubada. Algo cultivado a anos. Crescendo. Desesperando-se. Acham que tem mais? Não. Foi só isso mesmo. Acabou em 1 minuto. Momento exato em que a realidade veio a tona. Achei divertido mesmo sendo algo abstrato demais. Pensei que deveria relatar essa passagem de personalidades que se deu em instantes de uma manhã sem graça de quarta-feira.
"So once again the thought into my.
And visualize the blood as the life.
Is to bend the wheel of my own kind.
I wish you'd see the hope in my eyes.
All in all sublime on this side.
Then again you'd have to leave this life... behind.
Why I live this way? Who knows.
Why I live this way? He knows.
Is this damnation? Or a beginning?
I'll take "B"."


Agora preparem as cornetas.
Tudo será em grande estilo.
Quero o melhor vinho nesta taça.
Chamem os mímicos e os malabaristas.
Quero cor e música.
Quero vida aqui!
"Eduquem as crianças e não será preciso punir os adultos."


Pitágoras está longe de estar errado quanto a isso.
Frase ideal para estar onde vi... Departamento policial.
Se é que adianta estar lá e não numa escola se fazendo valer da sua essencia.
Brasil... o que é certo sempre está no lugar errado...
No meu jardim uma flor é suficiente.
No meu copo uma gota basta.
Nas minhas roupas uma cor prevalece.
No meu quarto uma hora de sono é muito.
No meu braço uma pulseira é exagero.
Nos meus pensamentos uma ideia é barrada.
No meu prato uma iguaria não entra.
Na minha boca uma palavra é absurdo.
Nos meus olhos uma lagrima é caos.
Quem criou essas regras eu não sei...
Tão pouco concordo com alguma.
O desastre ambulante num mundo inadequado?
Discordo!

Uma vida de racionamento.
Estranho sistema onde até os sorrisos são contados e descontados.
Ainda descubro o perigo que escondo.
É só questão de tempo.

Castelo de areia.

O unico jeito de se entender a fundo as minhas razões de achar que todos, sim... exatamente todos, têm algo de insano é vivendo a minha vida, olhando através dos meus olhos. Transformações a queima roupa não estão satisfazendo os líderes. Lamento que não tenha lhes prporcionado certo grau de adrenalina quanto a isso antes. Acontece quando se domina psicologicamente uma criança e mais tarde fisicamente um jovem. Perderam a melhor parte com tudo isso. Não viram o despertar silencioso da criatura que viveu a pão e água num constante estado de semi-lucidez. Guarde suas lágrimas e perguntas pra mais tarde. Talvez eu até pense em sanar as duvidas, mas jamais em aliviar o choro. Agora vou colocar a musica e aconselho que dancem no ritmo certo.

Início do descomeço.

Enquanto caminhava a passos miúdos pela longa rua, tentava imaginar algo menos dolorido. Sustentava uma esperança de encontrá-lo ainda a meios lençóis. A linearidade dos postes a encomodava assim como aquelas grades molhadas. Tanta umidade, tanto vazio, tanta noite. Estava além do suportável tal cenário. A cabeça não ousava se abster do capuz. Aquele nostálgico gosto de alcool abalava seu estômago. Não ligava para os carros. Nem mesmo entendia a linguagem dos homens. Estava mais uma vez mergulhada no seu fluído, seu mundo perdido regado a sertralina. Conhecia aquela neblina. Tal ausência com mais gosto de saudade. Novamente os olhos estavam manchados assim como a razão. Ela se via abraçada com a abstinência, despencando dez andares dentro de si. Queria ser menina, sabia que era mulher. Precisava das palavras dele com a certeza de que odiaria escutá-las. Não era um bom dia para lições. A cada passo menos presença. Poças trêmulas pareciam dançar ao vento. Mas nada a dominava mais que seus devaneios. Como desejava vê-lo. Complicada revelação. Ela não era mais o bastante para si depois de conhecê-lo. Estava a metros de casa e a séculos da realidade. Concentrava-se em em equilibrar-se no meio fio a pobre Colombia. Carregava tanto peso que a brincadeira ia perdendo a graça. Já não queria um copo de leite quente para passar o frio, ficaria satisfeita com o dueto leite e chocolate somente. Deixava de ser singular. Perdia o Eu. Procuarava o Nós nos bueiros, no ar. Menina de pensamentos contráditorios, suculentos e as vezes amargos. Queria que como em outrora o meio fio a levasse aos lábios dele e não ao palco particular daquele momento. Precisava desligar os holofotes. Estava de frente para a desilusão. O vento mais forte anunciava mudanças ou talvez fosse apenas impressão. Os olhos estavam pequenos. Os pensamentos foram escoando um a um pelo ralo. Matou então a sonhadora, encontrou a sensata e abriu o portão.