Planos tortos

A salvo de qualquer estratégia falha, coloco minha cabeça em lençóis brancos e me disfaço em lembranças e visões. Não há o que me arrepender e pouco quero deixar desaparecer.Os anos que se foram eram livres, fáceis e mansos. Nada a temer, nada a arriscar e sempre alguém querendo dar a vida por um sorriso meu. Era divertido adivinhar o destino e mordiscar os acontecimentos. Hoje não há quem fique lado a lado. As vidas são singulares e distantes. Tudo e todos parecem desaparecer aos poucos. Chega então o momento que pensei nunca viver. Agora quero tanto tocar o futuro de alguma forma. Descobrir se nele há algo que me prenda. Finalmente quero companhia de alguma forma. E o querer se desdobra em planos tortos e não convenientes. Eu gostaria de dividir sorrisos e planos. Gostaria de preencher espaços. Gostaria que alguém também o quisesse. Uma vida sem amanhã não é uma vida interessante.

O estranho

Vagava silencioso pela rua trazendo a noite e as horas com seus passos. Encontrava o poste e nele ficava escorado a faiscar seu cigarro. Sabe-se lá quantos cigarros sublimavam naquelas noites. Por trás das cortinas eu ficava a admirar qualquer movimento aflita e curiosa. Mas ele não se movia, nada de gestos ou sons. Apenas o corriqueiro, os cigarros, as faíscas, as roupas balançando com o vento e o rosto nas sombras. Enquanto o medo e o desejo ardiam em meus olhos, nada parecia acontecer com ele. Só nunca entendi, por que sempre vagou na minha rua, por que sempre fitou estático minhas cortinas, mas principalmente por que nunca bateu à minha porta.