Pássaro

Eu tinha belas asas.
Aquelas que você pegava emprestado,
pra dar vôos em outros ninhos
e trazer pra casa tristeza e novidade.
Eu costumava me empenhar
em tanto te esperar.
E foi cada dia mais demorada
essa sua volta amarga.
Cada vez mais fria
essa brisa que te trazia.
E já sem canto você me deixava em pranto.
Pedia sempre algo em troca de nada.
No surgir de qualquer pio
eu já não passava de ingrata.
Que mais querer além de sua volta?
Que mais pedir ou sentir?
Então já não sei o que esperar de mim.
Eu que já não quero voar.
Não pra ver o mesmo céu
que um dia mandei bordar de ouro pra te encantar.