Entre papéis e poeira

Fragmentando o tempo encontro você sempre de mãos atadas. Sei que costuma enaltecer situações, fazer rodeios e falar de nós como se eu fosse a fera. Porém, nunca estive com lâminas afiadas escondidas nas vestes, muito pelo contrário, sempre estive de mãos vazias esperando que as suas se ocupassem em segurá-las. Por tanto tempo não adiantei um passo na esperança de que você desse dois. Segui os dias fazendo questão de que fosse como eu imaginava, com fundo de romance e continuação quando as luzes se acendessem. Moldei o momento várias vezes e ensaiamos algumas inclusive. Porém, era preciso que eu deixasse nítido o que seria mais bonito ocultar. Sem coragem líquida eu sou apenas parte do cenário da sua vida. Foi assim e tem sido assim. Os anos entraram e saíram e eu me vi sempre cercada de mitos que fugiram dos seus pensamentos. A maioria deles invasivos e ofensivos. Nunca me importei com essas qualidades estranhas que soam como mistério e maldade. Mais uma vez, não tenho ações prontas para nossa situação, armada quase sempre com os mesmos elementos: gargalhadas, sorrisos, bem-estar e nostalgia. Esperei que com nossas vidas menos unidas você teria coragem. Mas novamente vejo que o fardo sou eu quem carrega e que esse abismo é fatal demais para você. Eu apenas gosto do perigo e do novo. Você segue cauteloso e continua estático e malicioso ao agir e falar do nosso mundo. Eu não sou nada do que você supõe e você não pretende ser o que eu apenas suponho. Deixemos as palavras de lado e também os sonhos. Tudo fica no papel, numa grande pilha de papéis na gaveta que nunca encontram a hora da publicação.