Ressaca de carnaval

Finalmente cornetas se calam, bailarinos descansam, serpentinas se entulham pelo chão e as ruas voltam ao vazio cotidiano. A ressaca da alegria de muitos ainda é a festa da tristeza de outros. Pierrot não acha graça no Carnaval. O interessante é que muitos ainda zombam do coitado se fantasiando com suas lamentações. Talvez apenas o Pierrot entende o que é ter lágrimas amargas e facas afiadas ao invés de sorrisos estampados e confetes em mãos. Lágrimas encombrindo o passado e facas para matar o que dele vier assombrar. Sigo despedindo da folia, tirando meu bloco da rua. A festa acabou antes mesmo de começar. Mas eu não tenho pressa, meu carnaval é mais animado fora de época.

O interrogatório

Os dias somam-se às minhas perguntas. Já nem sei se vivo mais dias ou se faço mais perguntas. Investigações minuciosas que parecem querer arrancar de mim a todo custo a verdade. Mas eu não sei qual verdade. A luz forte balançando sobre nossas cabeças. Você me interroga e eu te devolvo o ponto. Deixo tudo na narrativa e compartilho a minha loucura com você. É como um virus, caro amigo. Começa lento. Algumas dúvidas. Pensamentos frouxos que você nem sabe por onde escorregaram. E por fim, a paranóia. Esses questionamentos não vão te levar ao dia do crime. Você não sabe aonde quer chegar por isso não sabe por onde começar. Tão simples. Tão doce. Tudo não se passou apenas em uma noite. Vasculhe mais, encontre o calendário. Nele marquei cada singelo dia que passou por você despercebido. Os mesmos dias que me arrancaram lágrimas, sonhos e palavras.