Quero mais que posso

Quero um café a beira mar.
Com um sol baixo distante, que timído acaricia meu rosto como se quisesse por mim se apaixonar.
Quero uma brisa leve que me sopre verdades alegres e mentiras que me encantem.
Quero areia fina escorrendo entre os dedos e o som de folhas cortantes a dançar.
Quero um mundo cor de ouro com o toque de fim do dia que me tire o fôlego e me faça sonhar.
Quero então morrer de amores pelo silêncio da natureza e ver sumir com a noite a tristeza que já não cabe em meu olhar.

A noite e suas asas

Descobri nas asas desta noite um motivo maior para voar. Encontrei mais uma vez estrelas no meu quarto. Elas brilharam forte na ponta do meu nariz revirando meus lençóis e pesadelos. Eu estava voando alto num céu cremoso de um azul doce e encantador. Resolvi voar noites a fora daqui pra frente. Não vou te convidar, afinal de contas você é muito pesado pra sair do chão.

Sobre encontros e desencontros

Meus horizontes se confundem com as paisagens daquelas fotos antigas. Já não sei qual tem melhor gosto. O antigamente ao seu lado ou o atualmente novamente ao seu lado. Os anos se passaram, os centímetros aumentaram e as idéias se emaranharam. Modificamos nossas palavras numa tentativa de expor o nunca exposto. No entanto elas ainda se fecham pra camuflar o evidente e tornam interessante cada volta minha para casa. Temos desejos e sonhos interligados num sono que vai além do real. Temos medos e anseios que passeiam pelos telefonemas e recados. Não podemos esquecer que temos ainda muita vida e isso significa muitos encontros. Inegável dizer que nosso tempo corre igual e que em todos os cruzamentos dessa cidade estão grafados nossos nomes.

Solução drástica

Estou me tornando superficial e ignorante a cada linha que escrevo sobre você.
Portanto pretendo não mais escrever.
Pelo menos enquanto você estiver nos meus pensamentos e nas pontas dos meus dedos.

Doença

Seu egoísmo escorre pelas minhas veias. Feito doença, surgem os primeiros sintomas. Seu prazer em me ver no chão escorre salgado na minha face. Sua malícia ainda é a mesma, intercalando doces e venenos. Sem ação me vejo pequena, do tamanho exato do frasco em que você me aprisiona. Lutando contra sua loucura acabo encontrando a minha. Você é doença sem cura. O fim da minha humanidade.

Quanta gentileza

As palavras que me encantam saem dos meus própios pensamentos.
Mas não me agrada ser o cavalheiro e a dama da mesma história.
Os dias passam lentos e eu sigo moldando meu romance.
Me mando flores e me elogio todas as manhãs.
Enquanto isso você dorme e espera o café.
Logo você esperará por mim também.

Memórias geladas

Vou juntando as poucas lembranças que ainda me restam. Cacos de sorrisos, brilhos dos olhares e qualquer vestígio de alguma felicidade. Você partiu dizendo que logo voltava. Deixou a porta aberta jurando que seu calor aqueceria minha casa enquanto estivesse fora. Grande engano nosso. Mais meu do que seu, com certeza. Hoje fui perceber que há séculos você se foi. Hoje fui sentir o frio que corre por esses corredores. Nada mais tem o seu cheiro. Não vejo mais fotos nem escuto aquelas músicas. Talvez porque eu mesma não encontro mais nada. Talvez porque você mesmo fez questão de carregar tudo. As dúvidas brotam e morrem em segundos. Na mesma velocidade deixo de pensar em tudo, esqueço de mim e enterro você.

A espera

Mais uma vez estou com as mãos no queixo diante da janela sem vidro.
Nada vejo ao longe.
Não escuto sua imagem.
Nem vejo sua voz.
Já troco sensações, esperando trocar também os sentimentos.