A travessia

Parada em frente à porta não consigo tocar na maçaneta. Fitá-la é como fogo ardente que gela meu coração em contrapartida. Num arrepio que começa na cabeça e se espalha como seiva até os dedos, me vejo tomada por uma ansiedade nada comum. Seu casaco ainda pendurado na entrada me faz acreditar que ele ainda está quente. Mas não ouso mais que supor. Lá fora a luz brilha forte, mas assusta pela beleza. Ela destemida perfura vãos na madeira e se joga no chão ao meu lado em fragmentos brilhantes e sutis. Talvez seja um sinal de que tudo fica bem do outro lado.