Os vasos

Continuar se estranhando nas calçadas não vai nos devolver a paz.
Assim como usar o corpo e deixar a alma no cabide não vai tornar a situação mais imparcial.
Por que temos que mudar a voz pra falar um com o outro?
Por que os olhos evitam o encontro enquanto as bocas tentam camuflar o não dito já tão evidente?
Deve ser burrice ou talvez orgulho demais.
Dois vasos de vidro esperando conformados a hora de tocar o chão e virar pedaços mínimos da beleza que já existiu.
Dois fugitivos amadores jurando viver sem lei.
O retrato cômico de uma realidade tola.
Quem vai dizer a hora de se entregar?
Eu ou você?
Já engatilhei e estou na metade do caminho.
Confesso que a vontade de olhar pra trás é diabolicamente irresistível.
Quase um roubar no pique-esconde anos atrás.
Mas não vou adiantar nem apertar o passo.
O tiro sendo certeiro o fim também é.