Engarrafando sonhos
Continuam me dizendo pra largar manias. Como se algum ser humano fosse certeiro ao fazer isso. Embalar hábitos não torna ninguém livre dos seus vícios ou desejos mais absurdos. Estão se valendo de argumentos tocantes a primeira vista. Cantarolam sonhos, descrevem aspirações, colocam pra fora um ser ufanista que garanto que nunca viram como estou vendo. Um ser que brota pela boca e morre ao tocar o ar. De que vale senhores e senhoras toda essa paixão fulminante pela "grande realização" sendo que ao estufar o peito a magia começa a desaparecer? A realidade que entra nos pulmões sufoca ao invés de acalmar. É... Essa é a fumaça do nu e cru que existe diante de todos nós. E assistindo a essa mesma cena várias e várias vezes, claro, com protagonistas diferentes, me pergunto. Tudo fica nessa espectativa futura? É assim que se motivam a viver? Quantas manias e pequenos prazeres precisam morrer para que não se desvie da rota do seu grande sonho? E pra que tanta euforia se no mesmo instante o banho de realidade é gelado? Me desculpem, mas prefiro sonhar todos os dias e saborear cada pequena realização como se fosse a primeira e última. Porque sonhar grande e viver uma vida regrada não é pra mim. Se todos precisam necessariamente ter um grande sonho, então o meu é realizar todos os meus pequenos até o dia da minha morte. Sonhos não são vinhos. Eles não são mais valorizados com o tempo e nem ganham mais sabor. Pelo contrário... São esquecidos e o gosto é cada vez mais amargo.