Decisão

Engraçado como o tempo passa, as vontades e a figura muda. O rosto já não é mais o mesmo, assim como os dedos que correm. Muita coisa está diferente, mas a paixão é sempre a mesma. O gosto de ver cada palavra brotar e correr pela página em branco formando sentido continua tento o mesmo efeito em mim, a satisfação e o alívio. Satisfeita fico por ser a reponsável nessa criação ímpar e aliviada me sinto por claramente me tornar mais leve e serena depois de escrever. Minha vida sempre teve a forte presença das palavras, nada mais justo que fazer delas, agora, minha vida.

Escurecer de novembro

O tempo escuro me diz que está chovendo, mas lá fora não há nenhuma gota que me prove de fato o que está acontecendo.
Sem entender, vejo a noite aos poucos chegando tardia e morna. Como um abraço na esperança de que tudo fique bem depois que ela se for.

A brisa

O tempo mudou. O céu clareou e trouxe com ele um elemento novo. O sol não foi novidade quando tudo começou, ele sempre aparece de uma forma ou de outra, até porque tempestades nunca duram para sempre. A novidade veio de uma brisa leve, suave, algo inquietante, malicioso, que me rondava e tocava inconveniente minha pele toda vez que eu me escorava na janela. A porta eu nem ousava abrir, não queria minhas cortinas esvoaçando nem nada caíndo pelo chão.

E todos os dias a tal brisa esperava a hora certa, a oportunidade perfeita pra aparecer e revirar meus cabelos e pensamentos. Até que aos poucos fui me acostumando com sua presença, porque ela foi ficando cada vez mais insistente e encorpada, fazendo cada vez mais estragos a ponto de me fazer notar sua presença sempre.

Comecei então a me envolver com ela, abri a porta para que entrasse e ela não só entrou como revirou tudo como eu ja esperava, mas a essa altura eu ja não me irritava com ela, muito pelo contrário, ela era mais quente, mais confortavel, ja não tocava com receio minha pele, mas me envolvia por inteiro.

De brisa faceira, vi meu novo amor se transformar num furacão, torpor de vida e sentimento que não só entrou revirando e expulsando todos os meus medos, tristezas e mágoas, mas principalmente me trouxe vida, felicidade e calor.

Hoje não vivo mais a portas e janelas trancadas, não há nada que me prenda ou motivo para que eu me prenda.

Com você aprendi a voar, obrigada A.

Em casa

É com saudade e aquele vazio no pensamento que me dou conta de ter abandonado as palavras por um longo período. Provavelmente o período mais difícil da minha vida. Digo tanto porque nunca tive que trair minhas palavras, abandoná-las por completo pra me manter viva. Uma contradição e tanto e mais ainda ingratidão com quem sempre esteve comigo nos dias dificíceis, diria até impossíveis. Mas nestes últimos meses encostar minhas palavras foi um ato necessário. Era preciso não falar, não pensar, não registrar nada que me colocasse na realidade e eu sabia que tudo o que partiria dos meus dedos seriam as mágoas e a raiva do momento. Agora parcialmente recuperada, sinto saudade, saudade imensa e tanto para dizer, tudo o que vivi em meses e não tocou a tela em branco. Tudo o que eu quis tanto contar, mas não pude, não devia. Me sinto de volta, ainda com machucados que creio irrecuperáveis, ao menos por um bom tempo, mas viva. Agora me permito novamente conviver com sentimentos, agora tenho carta branca para estar aqui.

A mentira

Os ilusionistas vivem em um mundo tenebroso e são capazes de chamá-lo de paraíso. É ser muito triste ou muito feliz. O poder da mentira é tão violento que cega até mesmo quem a conta. E é aquela história, pra mentira convencer é preciso acreditar nela pra contar.

As pessoas

Ninguém foi feito pra ser compreendido. Eu deveria começar a pensar assim finalmente. Não sou compreendida. Também não me poupam críticas. O interessante é que não se empenham em fazer melhor. Não que o que eu faço seja digno de não receber depreciações. Mas tenho pra mim que quando critico alguém, quando exijo de alguém, é porque estou assumindo minha capacidade de fazer o que peço. Aprendi com as pessoas, as poucas que tenho paciência pra analisar, que todos parecem não saber hoje o que fazer ou como agir. Uns acreditam que devem levar em consideração o próximo, outros acham que só eles mesmos são dignos de opiniões sobre suas vidas. No fim ninguém chega a lugar algum. As relações de amizade, de amor, de proximidade, de parentesco estão deturpadas. Ninguém tem certeza, ninguém consegue mais arriscar. São os dias de hoje, onde as pessoas estão perdidas, segurando muita confiaça em si próprio, e se decepcionando quando até o que se pensa não parece fazer sentido.

Sobre caminhos e razão

Talvez seja hora de acabar com isso aqui. Já falei sozinha sobre coisas que não deveriam ser ditas nem pra mim mesma. Não vale. Não serve. Não existe e não é pra mim. Fato. Escrever o que não deve ser vivido tem ajudado. Agora não parece fazer sentido. Muitas linhas de ilusão e nada a se aproveitar disso. Os sentimentos, a tal raiva, ódio e por aí vai são controláveis e manipuláveis. Basta saber o jeito certo de lidar com tudo. Existe uma simples escolha, os caminhos são dois. Usar a razão e somente a razão ou ser penetrável e se perder. Não há meio termo. E pra efeito de causa, fique com o caminho número um. O segundo não é feito para caminhar só, ou ficará cada vez mais difícil e não se chegará a lugar algum. Caso por fim acredite que alguém seguirá seus passos, fique com o dois. É que ainda não me livrei completamente da idéia de que há algo de bom por lá, mas estou providenciando isso. Razão é o que eu tinha, razão é o que tenho. Razão para não ter no que acreditar e andar onde quiser, não me importando se é o caminho um ou dois. Mas que é o meu caminho e que nele ando sozinha.