Pôr-do-sol particular

Os postes passavam lentos pela janela.
Os olhos fitavam ressecados a vida cinza cotidiana.
Os pés ardiam enquanto os braços adormeciam.
Os homens se apertavam enquanto as mulheres tagarelavam.
Os músculos pediam sossego.

Sem pressa se rendia o sol.
Ainda quente, ainda odiado por mim.
Descia lentamente como se zombasse da cena.

E assim seguia o fim de tarde.

A mão se fechava cada vez mais.
A boca trancafiava as palavras já poucas.
A vida murchava lentamente.
A cidade morria diante dos olhos.

E assim seguia o fim de tarde.
O meu fim de tarde.