Arte com as cores da vida
Sinto a necessidade de colocar alguma coisa no papel. Quero rabiscar você em traços fortes e violentos. Atravessar tinta até rasgar a folha e espalhar sentimento por toda a mesa. Vou borrar suas angústias e pintar sorrisos e beijos. Colocar em tons vivos o que você deixou aos poucos morrer. Quero um quadro que escorra vida parede a fora. Quero você colorido com as minhas cores, com as feições que eu escolhi retratar. No final formaremos um arco-íris distorcido em nuances fortes e fracas, mas sempre ligadas. Nem que eu nos pinte com rostos desconhecidos, ao menos nossas mãos estarão juntas.
O gosto das estações
A garota que escreve sua juventude busca companhia nas palavras. Encontra sossego ao forjar situações e amores. Ela vive colocando brilho nos olhos de alguém e trocando de roupa na esperança de também trocar de vida. Cada dia da sua vida parece escorrer pelos dedos com grandes e pequenos feitos, mas nenhuma surpresa. Seus amantes nunca batem à sua porta quando ela mais quer amar. Em contrapartida, quando ela é sua melhor companhia, surgem cartas, bilhetes, sorrisos e tudo mais que não seja bem-vindo no momento. É difícil entender as linhas tortas de sua vida. Uma vida que poderia ser tão confortável, como a desses filmes onde os amigos sempre estão a postos e os homens voltam atrás com buquês enormes e serenatas. A garota tende a acreditar em mundos que não existem e escutar palavras nunca ditas. No fundo ela só quer ser alguém para todos os momentos e não uma falta que varia de acordo com a estação. Ela também sonha em se sentir confortável novamente. E ela sabe onde encontrar tudo o que procura. Resta saber se este lugar ainda está lá.
Claro
Aquele sorriso sacana me gelava a alma. Ele me olhava com olhos de quem queria diversão. Eu acreditava num desfecho diferente. Tentava me livrar do que via e ouvia. Aquela voz curtida que saia da boca dele me convencia do engano. Eu relutei. Tentei entrar na piada pra ficar mais perto. As gargalhadas não foram confortáveis assim como o abraço seco e cambaleante que ele reservou pra mim. Ele não parava. A noite passava e ele brincava. As palavras que ele usava não faziam sentido. Aquele tom debochado não era comum. Tudo ficou claro com o dia. O silêncio comprovou minhas suspeitas. Eu estava querendo fazer o certo com quem não queria nada demais.
Encontros pós-desencontros
Voltamos ao zero em todas as palavras que demoram a sair. O zero significa felicidade e pés congelados. Frente a frente, sem meios para qualquer ação, nos encaminhamos para o fogo que nos consome lentamente. A vida parece mais leve, os dias parecem desesperados para passar. É preciso toque, união, tudo num abraço que não pode acontecer. Eu tento procurar as palavras de decisão antes ensaiadas, encontro só sentimentos desesperados pra serem vividos. Quanto mais procuro forças pra ir embora, vejo que só tenho para ficar.
Sorriso só
Eu decidi me deitar sozinha. Decidi não fazer mais duas xícaras de café, não colocar dois pratos na mesa e nem me preocupar em apertar a pasta de dente do jeito correto. Me sinto bem e isso me custou noites em claro. Agora tenho um travesseiro como bom amante e seu lugar na cama já perdeu a forma. Os dias passaram, suas coisas saíram do lugar, mas não foram para a gaveta. Tudo está em um saco preto la fora. Logo o camihão vai recolher e eu nunca mais vou precisar te ver.
O silêncio
O silêncio que me atormenta também me conforta. Um lago calmo e espelhado que não se move, que nada espera. Basta uma pequena gota de chuva para movimentá-lo por inteiro e despertar a fúria em pequenas e grandes ondas geometricamente calculadas. O silêncio me rouba pensamentos, atrasa minhas ações e me faz reviver ansiedades passadas. O silêncio é bem vindo aqui e agora. Ele é amigo disfarçado, tende a me irritar, mas depois me acalma. Começa agitado, jogando idéias soltas e sentimentos existentes, depois vai retirando um a um, me mostrando uma calma intensa, um momento que aos poucos some, lento e calmo. O silêncio então passa a mão em meus cabelos e me coloca para dormir. Um longo sono negro, que só anseia por beijar a luz do próximo dia.
Um presente
Não existe nenhuma canção sobre ela. Nenhum grande poeta e nem mesmo o melhor músico é capaz de traduzir a leveza que ela usa para deslizar. Mulher talhada por Deus para deixar qualquer diabo de joelhos. Subliminar sorriso de garota enérgica com um olhar de perigo eminente. Uma aura de quem sonha se mistura com pensamentos céticos. Ela transparece não se importar com quem bate à sua porta, mas se encanta com uma singela gota que borra sua janela. É garota inocente com sabor de mulher ardente. Menina que reduz o sexo oposto a espectador quando pisca os olhos e cruza as pernas. Hipnotiza quando move os lábios e usa sempre um tom brincalhão que cai bem em qualquer cena. Ela tem o humor das nuvens, serena em alguns dias e em outros, raivosa a cuspir relâmpagos. Causa delírios de amor eterno e não costuma deixar pegadas quando a noite acaba. Tomei a liberdade de escrever sobre ela no momento em que a pequena me surpreendeu mais do que nunca. Suas delicadas mãos cobriram o rosto e finalmente a vi chorar. Como um oceano invadindo minha consciência. Vi o grande dragão aos poucos se vestir de anjo. Bela criatura frágil como porcelana a balançar na ponta da estante. Quem a pintou com cores quentes se encantou ao vê-la em tons tristes. Minha pequena flor com espinhos conheceu o amor e também o frio. Por mais que eu a tenha guardado em um globo de vidro com todo cuidado, ela conseguiu me dobrar. Doce pimenta, é egoísmo querer subestimá-la e me admira alguém deixá-la ir. Pescá-la é impossível. Ela é peixe tinhoso e esperto. É diamante escondido perversamente embaixo de rios, terras e pedras. A mais bela garota-mulher que encontrei nesta cidade morta. Siga seu caminho, boneca maliciosa. Continue dançando pelos corações dos tolos amantes. Não desperdice seus belos olhos esmeralda com quem teme a sua grandeza. Invada mais casas e fuja sem rastro, deixando apenas aquele perfume embriagador no ar, o mesmo que faz tantos por aí sonhar.
Ps.: Escrito por G.
Ps.: Escrito por G.
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